6 de out. de 2020

Carta a Elô. Parabéns, filha

 Acabou a expectativa. Chegou sua cartinha de aniversário.

Desculpe, a conversa foi longa rs
Bauru, 4 de setembro de 2020
Amada filha
Se eu lhe perguntar, tudo bem filha? Vai me responder: moooorta mãe. Que ano de 2020! Quebra da rotina educacional, pelo inesperado e assustador Covid19. Inovações, soluções virgens a cada desafio. Mas, neste mooorta, toda a responsabilidade de sua entrega por inteiro, comprometimento, como uma boa virginiana rs. Seriedade é com você mesma. A metade não lhe convém, tem que se dar por inteira.
Filha, é o seu aniversário. Chegou a vez da sua cartinha. Lá fora, dia nublado, cheiro de chuva que vem, silêncio no coração, apenas o bem-te-vi canta. Eu, nas letras, canto nossos passos entrelaçados, desde o útero sacramentado que a acolheu, para sempre. Ajeito-me na cadeira e começo... A carta não se inicia neste momento da escrita. Foi pensada em minhas insônias, no amanhecer, nas reminiscências anteriores ao parto, álbum de fotografia. Hoje, fui mãe de um bebê, preparando seus aniversários, irmãos, primos, amigos de infância e juventude, formaturas, amores, mãe de minha neta. Bom, aquelas que me sobraram depois de suas “catanças”. Quis colocá-la em minhas mãos, tatear sua vida, fazer memória das emoções, dos erros e dos acertos. E para os pais, parece que mais erramos do que acertamos na educação. A “mea culpa”, névoas de uma vida. Mas quer saber? Amo a mulher que se tornou.
Escrevo coisas que já lhe contei, mas são meus registros. Na carta, serão suas rememorações, seus guardados. Para ler, naquele dia, que precisar sentir-se mais amada.
Você nasceu com um nome, sem ultrassom. Simplesmente já era a Eloísa. Por admirar minha amiga Heloíza Francisco - a maneira de viver, da alegria, da positividade como enfrentava os problemas. E tem mais...seu nome significa saudável, Sol, guerreira. Alguma dúvida?
Durante a gravidez, uma intercorrência. Lecionando em área rural, de Gália, o carro da professora, só faltava colocar uma cruz vermelha de ambulância. E nessas idas e vindas de doentes, transportei pessoas com rubéola. O médico nos disse: Vocês correm o risco de ter um bebê com severas sequelas, se a Olynda não tiver anticorpos para a doença. Dias de angústia, vivemos. Eu rezava a sua vida nas” emoções encolhidas”. Seu pai calado, esperava...Mas, havia uma certeza, no meu coração e do seu pai, você nasceria e seria amada, acontecesse o que acontecesse. E para nossa serenidade os exames constataram que eu estava imune. O ar suave invadiu a casa. Pudemos nos “espreguiçar no sopro da vida”.
Elô, você nasceu bem pequenina, teve icterícia. Só vinha para os meus braços, na hora de amamentar. Ficava na luz. Saímos juntas do hospital direto para nossa casa. A vovó Malvina, as tias Lourdes e Maria Helena subiam as ladeiras para me ajudar. Não foi um recém- nascido muito bonitinho, mas conhece a história do patinho feio. Pensa num bebê, lindo. As visitas emocionavam -se com a sua beleza, com a pele de pêssego.
Meniniiiiinha, como chorou!!!! Também, até suco lhe dava cólicas. Pele sensível, sensível. Dr Argemiro vivia em casa. Durante o dia, um anjo de ternura, mas à noite... Penso ainda hoje, por quê? Lembro-me de uma cena recebendo visitas. Seu pai voltara a estudar à noite. Você no meu colo e a Path, com soninho, deitada também bem juntinho, com a sua mãozinha descansando na cabecinha da irmã. E assim, neste pacotinho, não servia nem um café às visitas rs.
E cresceram e vieram as artes. Brincar de cabelereiro? Lógico. E lá se foi a sua franja rs. Lembra da cena do guardanapo, naquele restaurante? Rimos muito. Íamos cantando músicas sertanejas pela estrada. Vieram os dentes fraturados, esconderijos embaixo da cama, cabanas na sala, a Jully, o barro da fazenda, as roupinhas lindas da casa Sabrina, a roupa country para a Exposição, o mimo das roupa de caipirinha. Tão lindinha! Sorria muito.
Você nunca nos deu trabalho com os estudos. Amanhecia e de bom humor vinha me dar um beijo de bom dia. Pedia minha opinião nas atividades de escola, lembra? Mas, advinha... fazia tudo da sua cabeça e bem significativos. Independente, sua marca. Abre espaços, num mundo desafiante.
Até hoje, causa-me sorriso o jeitinho de me cumprimentar, sabia? Parece uma menina/mulher, mas pensa numa mulher de personalidade forte, afff Ama-se de uma maneira absurda. Nos percalços da vida, sofre o que tem de sofrer, nem mais um dia. As cicatrizes se fecham com sua Fé e com sua criticidade, praticidade. Boora viver, não é filha? “Deus nos quer sorrindo”, não é assim que diz a canção? Quando quer muito uma coisa e não consegue se chateia, fica mexida, mas entrega nas mãos de Deus – Ele sabe. Se a travessia de um rio já não é navegável, os remos quebradiços, muda de rio, nas águas que escorrem pelas pedras. Às vezes situações difíceis de relacionamento, de família, resolve do seu jeito e segue a navegação na liquidez dos fatos e das águas. Quando penso que está levando o milho, já vem com o fubá. Virginiana, é preciso entendê-la.
E um dia se tornou mãe. E os cuidados recebidos se enviesaram à filha Maria Eduarda. Companheira, cúmplice de suas alegrias e tristezas. E como cuida, meu Deus! Uma bênção nos amanheceres que não se repetem. É a raiz do amor prolongada na descendência.
No diálogo com imagens, cenas tão vividas, sentimentos, sinto paz nesta conversa. Foram momentos só nossos de prece que sobem aos céus e das bênçãos que veem do alto. Continue feliz, minha filha. Abrace o mundo que lhe desperta.
Se eu a chamasse de princesa, pensaria em uma princesa lutando pela justiça, pela fidelidade às amizades, coerente com valores que acredita.
Quanto a mim, estou bem, na medida do possível, em quase confinamento pelo aumento das medidas. Eu era magra e não sabia rsrs, Triste, bem triste em não poder ir à casa da Path. Eu sei – na lágrima que salga a face, o cuidado de vocês, filhos queridos.
Gosto quando cuida dos meus degraus, do atravessar a rua, do andar sozinha, dos lugares com risco do Covid. “Cuidado, mãe.” Olhe”. “Espere”.
Senti falta do seu pai ao escrever as cartas . Outras lembranças teríamos a dois, de nossos 3 filhos.
Um abraço cheio de amor no meu parabéns. Na primavera que se aproxima, quero antecipar o perfume da vida, um Sol escarlate e uma Lua prateada, para que tenha os silêncios que precisar, os encontros que a façam sorrir, na bênção de Deus.
Feliz aniversário, minha filha.
Não é fácil escrever o que sinto. Mas, posso sentir cada espaço, cada retalho, cada recorte de sua vida”.
Mamys Olynda
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