Fonte Google
A rara poesia do cotidiano
Para mim, Shakespeare é muito maior do que sua Londres, com
suas noites frias e seus dias baços. O poeta cantou em seus versos a
universalidade do drama e do amor como ninguém o fez. Talvez por ter bebido de
fontes próximas ao seu colega português Fernando Pessoa, quem sabe? Esses dois
monstros sagrados da literatura universal disseram bem o porquê de terem
existido. Suas obras traduzem as faces de seus valores mais legítimos. Valeu
terem vivido e produzido a boa obra. Amaram seus tempos naquilo que viveram
intensamente, suas poesias.
Se eu pudesse – logicamente que se tivesse autoridade para
tal – juro que faria ser obrigatório aos presidiários do país declamarem poemas
como ações redutoras de suas penas. Não sei como se comportaria um serial
Killer ao declamar Fernando Pessoa antes de cometer qualquer crime. Se estamos vivendo uma época distante do
simplório tribalismo do passado, estamos também desaprendendo a amar. Falta
lirismo ao homem moderno e poesia no seu cotidiano, como também um novo olhar
mais humano e misericordioso para com seu próximo. Aprendemos bem demais a
sermos egoistas globalizadamente. Vivemos pelas faltas e agimos pelos excesso. A
emoção tem sido um bem mórbido que temos usado para viver os dias atuais.
Se furtarmos o amor da necessária e esperada convivência
humana, teremos nossas próprias almas roubadas de tudo o que nos for mais
essencial ter nessa mesma convivência já deficitária, que é a de hoje. A fé
anêmica que exercitamos na atualidade é a principal causa de vivermos em
desalegria e desencanto. Estamos nos isolando de Deus e a vivendo ilhados pela hipocrisia e o egoísmo que
alimentamos dentro de nós.
Se não engendrarmos um novo e promissor reolhar nas cousas
da vida, padeceremos tanto que nos será capaz, ao banharmos com o luar,
olharmos para o céu das noites e sequer enxergarmos as estrelas. Se os desejos
importunos estão nos desviando do real compromisso cristão para com a vida, que
nossa vontade impere e realize uma obra nova e proveitosa para o convívio de
todos.
Amigos continuamos a ter, mas sem a coragem e o compromisso
que destilavam nas amizades feitas no passado. Tudo mudou, até a natureza. Não
sabemos mais quando nos é conveniente o choro ou a gargalhada.
E por acreditar tanto na vida renovada é que prego essas
reformas espirituais para todos nós e nelas me incluo. É cabido a todos
promover uma mudança rápida e profunda no modo de vida. O que adotamos nem sempre presta e está nos levando a maus
lugares e péssimas horas. A oração mais forte que podemos exercitar é a
traduzida em obras sociais lícitas, convívio são, apadrinhamento responsável.
Ao estirarmos as mãos para a ajuda social, estaremos garantindo um suporte
digno para quando doutras mãos estivermos necessitando.
Quem comete o crime é
o homem. Portanto, cabe a ele reestruturar-se e reaprender a conviver
dignamente. É lícito, pois, fazer-se o poema cheio da poesia da vida e
declamá-lo no cotidiano novo que carecemos tecer. A doação, a fraternidade, o
amor ao próximo, tudo isso está nós faltando para voltarmos a ser humanos.
Passa pela instituição “família” esse reaprender produtor.
Fora dela continuaremos ilhados e tristes e sem rumo algum. A ordem de cada um
deve estar na ordem de todos. O amor, portanto, continua sendo a solução mais
simples para os nossos mais complexos problemas do cotidiano.
Escritor Paulino Vergetti Neto
Fonte:Jornal "A Comarca" de Monte Aprazível Paulista