23 de jan. de 2014

"O olhar do cotidiano", perambulando pelo SPA





                                                                                                           capela



O olhar do Cotidiano”, 
         perambulando pelo SPA


                                "A  casa  protege os sonhos do morador".
                                                                 (filósofo Gaston Bachelard)

      
    Como não percebi isso antes, em você, minha casa?  Esta frase me fez ter outro olhar pelo canto que me acolhe. Eu agradeço por ser cúmplice dos sonhos meus, minha querida. Estou com vontade de abraçá - la  por ser meu baú de lembranças, de projetos que me fazem seguir “ sempre em uma direção: em frente”.
   Desconfio de que você pensou alto demais e alguém ouviu um dos seus sonhos protegidos.  Sabe  aquele que dizia: eu me quero, para mim”?  Quero sentir a minha presença, pulsando em mim.  Ter um tempo para me   olhar  e me reolhar.  Para me revisitar. Revisitar minha Crença e crenças; o que me faz viajar de olhos abertos, de olhos fechados. Revisitar meus conceitos e preconceitos; minhas pontes, meus muros; meus vínculos. Descobrir o que ainda gosto de mim... e  o que não  me faz sentido? Então... querida   casa;  um sonho saiu pela fresta e tomou estrada a se realizar.  Eu sei que fica triste em perder um só de seus guardados, mas tenha paciência.  Um sonho de cada vez, tem que ser transformado em realidade.   De que valia, teria os sonhos, sonhados, e nada mais?  Está emburrada, com ciúmes deste sonho, deixar seu ninho? Não fica não...  colocarei outro no lugar. E correndo para chegar logo, antes que desanimasse; por adiar sonhos;por preguiça em mudar; !deixa para outra vez”, fui viver uma experiência, primeira.  Conhecer o cotidiano de um SPA (Saúde Pelas Águas).
    E nesse corre-corre o meu sonho foi parar em um SPA.  Mas, não em um  qualquer,não.  Foi logo entrando no SPA da Lú, em Piratininga.  Ah! Você vai para o SPA da Lú? Imaginava, eu, quem seria a Lú. Tão longe, antes, e tão perto, hoje.
     Ao falar meu nome, as funcionárias já sabiam que eu chegaria. Nem precisei dar muitas explicações.  A Lú vem ao meu encontro, como se eu já a conhecesse e fizesse parte do seu círculo de amizades. Bom... já me senti em  casa. E por falar em casa, mando um recado para minha “fica tranquila; estou bem’.( ela fica brava, quando não lhe mando notícias). Vou descobrindo que este lugar poderia se chamar SPA família, SPA simpatia, SPA acolhida.
     Hora do almoço. Imagine como ele é esperado! rsrs. A Lú,  chega impecável, charmosa, trazendo com ela sua meiguice, a qual vai se achegando em cada um.  A sala de refeições, lindamente decorada, misturando o antigo, com o moderno, valoriza o espaço, cria um ambiente que suaviza, descansa a alma pela arte, pelo capricho, pelo bom gosto. Esta mistura de estilos; o antigo com o novo parece nos dizer que temos historias, as quais merecem ser guardadas, valorizadas, e outras a serem descobertas e abraçadas.
   A família, ao lado dos funcionários, limpa, prepara as refeições, e sorri. Eu me senti acolhida pela receptividade. As travessinhas se apresentam tão lindinhas, tão decoradas, que degusto só as 600 calorias, (opção minha) e ainda fico feliz. Pode?  Digo opção minha, porque tudo nos é perguntado: quer se pesar? Vai fazer dieta?
  Falo, em  um  outro texto, dos presépios do cotidiano; os quais acolhem Jesus, as pessoas, a natureza, sem se preocuparem com datas de calendário.  Se ainda é Natal, ou, não.  Pois bem... este presépio eu o sinto aqui. Simplesmente, acolhem...
   Depois das refeições, parece que me coloco ao redor da mesa da cozinha, onde a família se encontra para contar os causos. E quantos causos!!   E aí... a  Lú vem, com sua voz rouca, suave, a dar explicações de reeducação alimentar, mas também com suas estórias. Imagine...  18 anos ! Tem muita história e estória neste lugar!
 Tudo acontece! Causos engraçados, boas gargalhadas. Aproveitamos e contamos as nossas gafes, episódios inusitados de viagem... assim  o tempo passa...com  uma leveza que nos acaricia.( o perambulando do título, tem sua estória, também, com muito riso)  No enviés da vida, há  partilha da pessoa que chega com cicatrizes que marcaram a carne, mas, neste ambiente familiar conhecem outras mais profundas;  e se fortalecem. Há emoção neste lugar! Muitos retornam e retornam, selando amizades.
  Conheci a Nair, que emagreceu 28 quilos, durante   7 meses e faz disto um projeto de vida. Vai e volta em semanas alternadas. Acaba fazendo parte da família. Outros vão para relaxar, quando estão fatigados, querendo deixar a rotina, como se fosse um hotel fazenda. Eram fatos desconhecidos por mim. Gente magra em SPA?
    Se a casa é guardiã de sonhos, o SPA é um palco, onde   entram em cena o bem estar, a saúde, a vaidade, o gostar de mim, ou, se descobrir linda.    Na coxia deste teatro, onde cada um narra a sua história; têm os sonhos, apressados e outros pacientes.  Cada personagem tem sua emoção, sua capacidade singular de enfrentar conflitos, ansiedade, euforia, esperança,  na busca de um novo visual. A moçada quer entrar naquele vestido maravilhoso; a noiva quer ficar linda para o casamento; outra está no final de férias e quer queimar as “gordurinhas” adquiridas. Na hidroginástica é uma farra.! Cada um fala do que almeja, com bom humor. Há também os que param a vida, e moram no SPA durante meses, para se curar da obesidade mórbida, sem cirurgias, sem dieta louca, fugaz... E se torna “filho”. E tantos outros...
   Um gesto da Lú me chamava a atenção.Ao contar os causos, principalmente os emotivos, ela fixava seu olhar na porta larga da entrada, e com suas mãos delicadas, apontava para ela, como se mostrasse o caminho das emoções vividas. Entram por aquela porta, aqueles que, querem desbravar sua alma, seus desejos.  Entram por aquela porta, partilha de alegria, tristeza, curiosidade, ansiedade, choro, perda, amizade.  E os que desejariam deitar gordo e amanhecer magro.Todos nós rsrs Há tantas vontades, indagações na mente, no coração. Eu me propus, a ter um tempo de “deserto”, para criar novos cantos, dentro de mim, ao entrar pela mesma porta. Ouvir as vozes do silêncio, que se aquietam, gritam,  ou apertam o peito.
     Lú, você, tendo esta disponibilidade, de nada impor, muito ouvir e servir,   vai se tornando “arquiteta  de vidas,  arquiteta de novas casas, ou reformando as  já existentes dentro de cada um”.  “Arquiteta” de novos olhares e reolhares,    encontros e revelações.
     Neste meu jeito de olhar o cotidiano, um SPA deixa de ser apenas um espaço de emagrecimento, para se tornar um “outro rio a navegar.” Nadamos, sim, buscando a boa forma, mas tendo a oportunidade de não ficar nas margens; de beber a água da sabedoria do viver melhor; de crescer com os nós e laços que entrosam vidas. Exercício de boa convivência. Nem sempre nossa pele sente – se amaciada por outra.  Às vezes o que se sente mesmo,     é    a   sua aspereza, mas acolhe-se mesmo assim.  E de repente você se encontra com amigas de longe, parente de parente. Amigas de faculdade e os abraços se multiplicam, vivendo aquele momento, com intensidade, único!  
    Tempo de semear, tempo de colher”. Queira Deus que eu tenha semeado coisas boas neste lugar.  Deixado o meu rastro.  A colheita, eu a fiz da melhor maneira, recolhendo o que de melhor encontrei em cada um. Tive conversas deliciosas à sombra de um pé de jatobá. Boa leitura também.
     Ah...  se  eu emagreci?  Lógico!  Mesmo não sendo minha intenção primeira.
Preciso lhes contar que, este parênteses,  no meu cotidiano ganhei de Natal dos meus filhos. O desejo deles era me proporcionar um presente significativo.   Conseguiram !!!   Eu bebi até o último gole e agradeci.
   Avisa, lá em casa, ”que eu estou voltando...” Voltando para esta energia, esta paz que sinto dentro dela. Que não são suas;     são minhas, da moradora,e ela não aceita. Teimosa esta minha casa... mas a paz e a energia são minhas, sim...

                 



3 de jan. de 2014

As taças que existem em mim


    Um brinde
       
               Gratidão!

                     Às taças que existem em mim.


Com o sol, raiando há algum tempo, no primeiro dia do ano de 2014, me deparo com minha amiga Gina Sanchez, instigando os amigos do face. - “Por onde começar meu Ano Novo”? Bastou, para virar minha chavinha de blogueira rsrs
       De manhã, mas nem tanto, entro na cozinha, penso em sua frase. "Por onde começar o meu ano novo?  Bom... Por hora, guardando as taças, organizando a 'baguncinha" deliciosa da festa.  Que por sinal, foi maravilhosa!  Meus filhos foram acordando e recebendo meu abraço de agradecimento; “obrigada pela noite encantadora que vivi; que senti ao seu lado.
      A prioridade é pelas taças mais finas, as quais não quero que se quebrem. Trazem lembranças do noivado, outras das “bodas de prata.” São quase antiguidades”. Uma amiga, brincando,  me diz que eu respiro crônica, poesia. Sendo assim, tenho um reolhar , desta manhã. Começo o ano, guardando minhas taças de cristal valorizadas pelo meu olhar do cotidiano. O passado faz parte de mim.Não fujo, não me envergonho dele.  É a minha taça. Não me aprisionando; valorizando o que me construiu. Os mais sublimes relacionamentos, as mais agradáveis surpresas, o meu melhor momento de autoconhecimento, o meu mais intenso amor, minhas amizades, família, minha alegria em viver, os conflitos, “trilhos” difíceis de serem transpostos, trabalho, minha Fé.  Cada um sabe da taça que o toca, que se faz merecida de ser guardada, antes das demais.  As taças podem ser de cristal, de vidro, louça, cerâmica; mas são taças. Símbolo de brinde, de celebração. Trago para 2014  o que me foi leve, o que me fez crescer, o que me fez mais "gente", o que me aproximou de Deus, de mim, do outro... Trago para 2014  o que me fez celebrar.
    Cavo um espaço grande em minha talha, para o novo, por ideias, por relacionamentos, por ressegnificados....
    Interessante o que me revela o dia seguinte. Antes do dia 31, prometo me desapegar, limpar gavetas, armários, jogar lixo entulhado, do espaço físico, da minha alma. Mas ao arrumar a casa, tomo em minhas mãos uma bonita garrafa de espumante, de vinho, vazia, e mesmo morando em apartamento tenho a tentação de guardar;   começando a ocupar espaços, recentemente abertos. “Fico com dó de jogar, até no reciclável.” Poderia ser um vaso, mesmo tendo outros.  O que dizer dos meus apegos, então?
    O depois me leva a descobrir o que foi essencial na minha virada do ano. O que foi importante, o que foi supérfluo. Ele também me faz sorrir, ao me lembrar das luzes, e mais luzes, dos abraços; dos que foram possíveis,  das pessoas que gostaríamos de ter abraçado; nossos amigos virtuais, os  distantes, os que se foram. Do riso invadindo a sala.
     Com este reolhar da vida, no dia seguinte; faço um brinde e sinto gratidão por todas as taças presentes em mim, por mais de seis décadas de existência. Taças que encheram minha talha de vida, de experiência, de crescimento, de valor... Taças da dúvida, da incerteza, do medo... Taças que foram bálsamo quando cai e me esfolei na vida. E foram taças ao brindar, quando me pus de pé. Nenhuma talha se basta por ela mesma. Não se abastece a talha na solidão, no ostracismo, no egoísmo.   O barro seca e se parte. Hei de cuidar de vocês, preciosas taças, como o mais fino cristal, a mais rica lembrança, o mais intenso presente.
  Ah... já ia me esquecendo, Gina: por onde começarei meu ano novo, mesmo?
     Pelo brinde lindo, lá de cima rsrs !