30 de jan. de 2017

Eu ri muito

Eu ri muito....
Viajar é muito divertido. Se vê de tudo e mais um pouco. Renova os ares, as alegrias. Se aprende e se ensina.
Não está esquisito uma banana muito bem instalada no armário de mantas e toalhas de banho? A mim também causou esquisitice. Mas, enfim, lá estava.
Nós fomos a um encontro, com algumas amigas. Orientadas quanto ao quarto que ficaríamos, nos acomodamos, então, me dirigi para o refeitório, seguindo o cheirinho do café sempre acolhedor depois de 3 horas de viagem. Bem, na volta, assim que abri a porta do alojamento me deparei com a senhora banana. Pensei...minha querida amiga deve ter uma alimentação politicamente correta: comer a cada três horas, hábitos saudáveis, muita água. Ela deve ter saído e retorna para pegá-la. Quem não conhece o valor nutricional desta fruta, dos quitutes doces e salgados, tendo a banana como ingrediente?
Mas, comecei a ficar intrigada porque a amiga saía e voltava, e de novo e a banana nada de ser retirada do seu lugar nada adequado. Onde que se pensa a banana? Na cozinha, fruteira, na copa. Geladeira? Acho que não combina muito, mas para não estragar está valendo. Até me lembrei do bolo que o João fazia e que as professoras do De Michielli amavam. Fecho o parênteses; voltemos para o quarto. Depois de idas e vindas resolvi esclarecer o caso “ banana”. Malu, foi você quem colocou esta banana no armário? “Foi”. E você não vai comer? “Não”. E agora desvendarei o mistério. “ Olynda, os quartos são todos iguais. Então coloquei a banana como um diferencial. Assim que abrimos o quarto, o identificamos como nosso.” Gente, mas eu ri gostoso e muitas vezes. Conhecia as mil utilidades da banana. Pra mim, esta é nova, mas que foi útil, foi. Dava segurança. Fica a dica, mesmo que não seja uma banana. E ainda deu crónica, lógico. Obrigada, amiga. Não falo que viajar é uma delícia? No final das atividades arrumamos as malas e ela já pode ser retirada daquele lugar inusitado. Sabe que eu não sei, se ela voltou para a frasqueira, ou se minha amiga a devorou? Olynda Bassan

26 de jan. de 2017

Arquétipo



Arquétipo
Há dias que se amanhece vendo o Sol brilhar, enquanto nuvens se desmantelam em suas comportas e lavam ares e terras. Até ouvimos um passarinho verde a chilrear. Outros reflexivos, diante de um estado de alma que nos incomoda. A quem estamos permitindo, que nos aflore o desamparo da infância, a insegurança da adolescência, a criança rejeitada no corpo de adulto? E sofremos por projeções imaginadas, na ausência da serenidade. E dá-lhe insônia, olhar com farol baixo, uma ruga de expressão e prece de libertação. Quebrar correntes e “buscar os desvios, pode ser interessante”, uma boa dica.
De repente, no meio do dia sentimos a falta de um chão, das nossas raízes ,que nos dizem quem somos e de onde viemos. Resgate da nossa identidade, da nossa autoestima e valorização, ou, apenas saudade dos nossos ombros, dos nossos estaleiros. Onde um guardanapo sob uma xícara de café, com pires, ou não, queria dizer; você é amada. Ontem fui à casa de uma amiga querida. Quando ela trouxe uma toalhinha bordada com ponto atrás e um bolo de fubá, ela nem sabe a emoção que me causou, o quanto me senti acolhida, na lembrança da D. Malvina, minha mãe.
Hoje, retirei do meu baú de guardados, a toalha da minha mãe, trançada nos desfiados de suas bordas. Trama da paciência na arte caseira. Precisava de um ninho. E qual o melhor arquétipo de ninho, de agasalhamento, se não, o da mãe? Ali está, ornamentando meu banheiro no sentido de pertença, acalentando minha alma. No conforto de ser amada, abençoada.
Chove chuva, esfria minha casa exterior, mas o calor permeia os cômodos da Fé, do sentido da vida, na alegria de sentir-se Sol, na gratidão. Bença mãe, bença pai. Há frestas, sim, no cinza destas nuvens. E vamos pra chuva. “Tens medo de chuva?” Não. Só das Nações. Abraço da Olynda.

19 de jan. de 2017

Em legítima defesa



                            Em legítima defesa.

Frase postada pela amiga Angélica. “ Confesso que já assassinei vários sentimentos em legítima defesa”.( Zack Magiezi)
Poxa! Um bom tema para uma crônica.
Parece uma novela, mas quem já não foi escritor e personagem deste combate insano, forjando um desejo que nos contradiz: eu não amo, quando se ama; eu quero ir embora, querendo ficar; o não quer dizer sim. Eu já superei, quando se está entranhado no desamparo até o pescoço. Palavras que só valem no momento, não se internalizam na discordância das escolhas. Mas o dia “do basta”, e não o “dia do fico” tem que sacudir o coração ferido, porque a pessoa que o machucou, não virá assoprar a dor, por mais que se espere no silêncio das insones madrugadas. No instante em que a decisão passa do coração à razão, enterramos a mala abarrotada de sentimentos que já pereceram além da esquina. Jogamos a última pá de cal, para que não definhemos nós. Ah, este amor próprio que vem a passos de tartaruga, deixando rastros inenarráveis de angústias e incertezas romanceadas.
No meu romance quero ser um escritor que incorpora ao seu personagem o seu lado mais drástico. O assassino inconfesso, que enrola os sentimentos e lança na vala do esquecimento libertador. E quando eu ouvir o último canto do cisne, como um “escritor fingidor” que mascara sua dor, estarei com uma taça de cristal, bem bojuda, girando a lágrima do vinho que escorre densa. Na sala ecoará uma gargalhada, ao som do “Aleluia de Handel”, como uma missa de exéquias. Na histeria me dou o direito de fechar as cortinas do primeiro ato.
E a vida segue como um teatro de muitos atos, com cenários construídos na arte requintada de se reescrever, no balanço das cortinas de veludo vermelho, que se fecham e se abrem na sequência do nosso enredo. Se no primeiro ato da opereta se debulha em lágrimas, procurando um lenço na bolsa, às vezes em vão; nos que se sucedem, o riso se faz presente num palco, até sem plateia, iluminado pelo brilho de um olhar verde esperança. Não serei mais o “escritor fingidor”, mas aquele que cavouca o que há de mais terno, de mais verdadeiro em mim, na gaiola de portas abertas.
No início um assassinato em legítima defesa, no pseudo egoísmo de se amar primeiro. No final, o voo da águia mulher, que transcende a coxia do espetáculo dantesco e rompe a imensidão de um novo mundo, no qual o seu baço olhar não sonhara.
Pela busca de si mesma,
na trilha da autoestima,
num sonho instigante,
declaro a ré inocente.
Olynda Bassan.

17 de jan. de 2017

Me reinvento





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       Uma chuvinha mansa lá fora,enlameando as ruas onde o asfalto ainda não chegou, regando raízes, que um dia florescem, esverdeando o mundo, pincelando cores, salpicando jardins. Não será um dia como o de ontem, então me reinvento no meu café. Faço diferente. Tomo em uma mesa sem aparatos, não acendo a luz, me faço prosa na penumbra, cercada pelos cadernos, livros, computador, agenda e fone de ouvido dá noite anterior. Sem pressa, molhando o pão amanhecido no café, como na casa dos meus 
dos meus pais. Aproveito o friozinho na pele, o respirar pausado, o sentido do instante que se faz calma e oração. Na caneca retrô, presente da filha, vejo a vida que, continua no novo, sem desperdiçar o passado; ombro que me sustenta. Não preciso fazer tudo igual, não preciso do Sol, da energia para enxergar a luz. Nesta manhã, a descortino dentro de mim, na serenidade do meu café e a cristalizo em crônica. Que fazer? Se ela é graxa das minhas engrenagens do pensar. Então um bom- dia queridos amigos iluminados. Abraço da Olynda

16 de jan. de 2017

Eu voltarei, Salvador







   
               
                                              Eu voltarei,  Salvador...

  

        Por que não consigo ouvir uma frase e não pensar em crônica? Já que é assim, escrevo mais uma rs.


      Minha filha Path, no momento de partir da Bahia, com a qual ela se identifica, e muito; depois de ser envelopada pelas delícias das férias, dizia ‘que já não tinha o sotaque “baianês”, mas de nordestino, pois assim se sentia. Ia para São Paulo trabalhar, para poder voltar.”
       Mais que uma declaração de amor a Salvador!  Tem muita Serotonina, muito prazer nesta frase. “Prozac” natural, sem efeitos colaterais. É o voltar para sobrepor as pegadas deixadas; onde se foi acolhido e acolheu. Onde se olhou no olho e se viu na luz. Será que baiano consegue ter depressão, no azul deste mar?
      Uma energia que a recarregará no alento, quando se levantar com os cômodos de sua alma sombreados, querendo ficar na quietude do seu quarto. É na benção do trabalho que me faço “pertença” neste mundo de concorrências e escolhas. Nem sempre o trabalho dignifica o homem, mas quem o tem já é um começo para pulos maiores.  Agora, trabalho aliado ao prazer de ir, não tem preço.
      Quando me sentia cansada, desanimada, eu pensava....”bora trabalhar Olynda, tem gente te esperando, tem um mundo lá fora para ser descoberto”. Vamos lá...”você adora empurrar carrinho no aeroporto” e isto custa dinheiro.  E se ganha com o suor e simpatia do seu rosto rsrs
      O sorriso da Path e da filhinha se incorporaram ao cenário das praias de Salvador; exuberantes! Quem? As parias, ou, os rostos com a cara da alegria? Há ambiguidade nesta frase? De jeito nenhum. Tudo exuberante na Natureza privilegiada dos baianos., no jeito de receber, e na reciprocidade, um sorriso agradecido e satisfeito.
Com conhecimento de causa, pelos momentos de incertezas vividos em 2016, onde a Fé triunfou e a deixou de pé, a Path canta folosofia em sua alma e fecha com chave de ouro, sua semana na Bahia " A vida deve ser intensa e maravilhosa, ainda que vez ou outra tenha a capacidade de ser dolorida" ( Path). Pelo visto terei uma cronista concorrente na família.


Somos retirantes na busca de nossas voltas.
                                                          Olynda Bassan


15 de jan. de 2017

Eu chorei por uma bicicleta









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                                             Eu chorei por uma bicicleta.

     Dizem que hoje os pais presenteiam seus filhos, antes que surja o desejo. Se perde a espera, o encantamento de lutar por alguma coisa. Que se evita as frustrações, os traumas do desamparo por um não.
Há exceções. Meu Deus, como sofri por uma bicicleta. Briguei com meu irmão. Mordi seu braço porque vinha me gozar no meu choro sentindo, estirada na cama. Eu me lembro do seu rosto de “sarrista”, do quarto, da cama, como se fosse hoje.  O Pedro ria, até quando apanhava. Imagina! De nada adiantou. Sitiante, a mercê das chuvas, frio e calor, pai de 7 filhos, todos em idade escolar, não tinha como satisfazer meu tão sonhado presente.  Meu irmão punha o dedo na ferida que ainda sangrava. O tempo passou e não morri. Não sei se fiquei mais forte, ou mais tinhosa rsrs.
Dependia da boa vontade dos meus amigos em me emprestar a magrela. Lógico que havia desavenças, porque o meu tempo na vontade, não era o mesmo de quem usufruía do seu bem 24 h. por dia.
Hoje, a história se repete; minha neta chora por um par de patins.  Por aconselhamento de seu tio fisioterapeuta aguardou se aproximar dos seus quase 12 anos, para reascender sua esperança em conseguir tal façanha. Ela repete como um mantra “ eu quero meu  patins, meio cantado, meio choroso. E cadê que ele vem?  
Não se pode ostentar o que não se tem, no propósito de não frustrar, Esta é a realidade. Outras prioridades caseiras estão em jogo, neste mês e no outro, no outro..
O coração de vó fica pequenino, apertadinho na lembrança do seu desencanto de infância.
Quem sabe um dia, não é minha pequena? Você tenha mais sorte do que eu


                                                                 Olynda Bassan

Eu, e os meus verbos






                                                        Eu,  e o meus  verbos



 Quem sabe faz ao vivo
  Não espera acontecer”

Sair
 por aí com o vento na cara
Ser
paz, sem medo de perdê-la
Amar
Conjugado no presente
Sofrer
sem medo do sofrimento
Pisar
em qualquer torrão
conhecer meu chão.
Viajar
sem mágoa, esconderijo do ontem
Caminhar
nem ao Arroio, ou Chuí
em mim
Sorrir
em consonância com a alma
Espalhar
 o vírus, hospedeiro da alegria
Sentir
o agora e não o que desejaria
Libertar
dos desejos que me aprisionam
Ir
Com o vento na cara
nos caminhos sob a pele.

                                                           Olynda Bassan       


14 de jan. de 2017

No elevador




                              No elevador


     Na espera do elevador, a relatividade do tempo. Quanto mais  temos pressa, maior é a sensação da demora. Por que parou; parou por quê? É a fulana do quinto andar.  sempre ela. Lá vem os julgamentos.
  Somos conhecidos, desconhecidos, a única certeza é que estamos num lugar apertado com pessoas chegando, ou saindo. Ninguém parado, vendo a banda passar. Os que chegam do trabalho, e os que buscam, na esperança e sola gasta.
 Muitos sentidos são despertados dentro de um elevador. Alguns agradáveis, outros irritantemente desagradáveis. No meu prédio, a lixeira comum fica longe dos apartamentos, e apenas um elevador; o social, sendo assim, temos que transportar nossos lixos por uma única via. Nada mais desagradável que sair toda embonecada, perfumada e se deparar com sacos de lixo no mesmo espaço. Muitos moradores esperam o elevador voltar para não incomodar. Pessoas educadas, de bom senso. Outras se desculpam, pois não podem levar em outro horário. Ás vezes eles já estiveram por lá, pelo rastro do odor deixado. Em contrapartida se sente os perfumes, as fragâncias do após banho. Moças de cabelo molhado, de um frescor invejável, partindo pra noite, pra Faculdade. Despertam a curiosidade de saber onde vão, quais cursos frequentam.  Homens cheirosos; como é bom! Outros com o macacão cheirando à graxa, tinta. Trabalham! Um privilégio.
   Ah, de manhã encontramos as crianças abraçadinhas no pescoço do papai, se negando a despertar. Mal lavaram os olhinhos de sono, mas a escolinha, ou a casa da vovó as esperam. Vejo também  as bonequinhas de cabelo com trancinha, "chuquinhas", todas tagarelas, parecendo que viram passarinho verde ao acordarem; papais calmos, sem estresse, no maior papo com os filhotes.  Os meninos de super herói, puxam suas próprias mochilas. Me preocupa as caras amarradas, preocupadas. Triste jeito de se começar um dia. 
 O elevador é palco de conversas truncadas. Nunca se sabe o causo todo. Ah, se curiosidade matasse. 
 Lugar para olhar o nada. Na caixa metálica, estou no espelho e me pergunto "se teria medo de quem sou hoje". Não me reconheço nas expressões que o tempo desenhou em minha pele. Os traços da alma são mais leves, mais jovem que a mulher refletida. E não há volta. É seguir e seguir. Espaço para se começar uma crônica: que calor! esfriou né? será que vai chover?
 Do inesperado. De repente um menino falante começa a lhe falar da escola, da menina linda da sua classe, lhe fazendo de confidente. Fico sorrindo pra inocência, ainda em seus olhos. E os " filhos- cachorro"? Meus Deus, com que carinho os abraçam! Nos sentimos na obrigação de cumprimentá-los, de acariciar o pelo, de perguntar o nome, pois é o ser mais importante daquele lugar.
 Elevador, espaço de fantasias para os amantes. Beijos roubados entre um andar e outro.  Querendo prolongar o tempo para amar mais. Câmaras? Ora bolas! E lá é hora de se lembrar delas? Mas, devia. Elas revelam os que se ajeitam, os que passam batom, limpam os dentes, arrumam a meia-calça, o cinto. E até com quem estamos saindo. Não se guarda segredo em um elevador moderno.
 Ah, se elevador falasse....

                  Olynda Bassan


Um encanto

Eu me encanto com o canto em que moro. Me sinto em uma colônia de férias. No som do movimento das águas da piscina, imagino um murmurar de uma cachoeira. No balé dos pássaros, um bosque. O sábado está de um encanto só. O olhar, que bem olhado com a alma, me diz: esta é a felicidade dos instantes. Simples assim. mas, quem mora ao redor de "um clube" conhece bem o movimento das vozes que se espalham pelas quadras, as bolas que se trombam com   cestas de basquete, os gritos ao mergulharem nas piscinas. É o barulho da alegria saudável, entre amigos. Nos acostumamos à vida do condomínio. Não me incomodam. Ás 22 horas, apagam-se as luzes, como um toque de recolher. O silêncio reina novamente no espaço de lazer.  Boooom dia na brisa da minha janela, no balanço dos cabelos. Só me resta um louvor bem dado ao meu Senhor.

12 de jan. de 2017

Com avental se faz crônica






       Com Avental também se faz crônica, sabia?


    Eu me lembro da música exaustivamente cantada nos dias das mães, que a reduzia à mulher do lar, com o avental todo sujo de ovo.
Mas, existe coisa mais decepcionante que, ao passar uma roupa, perceber que está manchada de gordura e perder toda a lavagem? E volta para o cesto de roupa suja, mesmo cheirosinha.
 Tudo porque deixamos o nosso avental pendurado num gancho qualquer.
  Para não lavar a roupa duas vezes faço um propósito para 2017: colocar avental ao cozinhar. Parece simples, não é? Mas é uma mudança de hábito como outro qualquer, que nos evita gastos, tempo, também conserva melhor a roupa e não nos deixa chateadas. Ajuda na autoestima; eu consegui!
 A criatividade com que se idealizam esta peça é encantadora. Tem uma gama de modelos, cores e tamanhos. O tema passeia pelo humor, clássico, charme e época. Também têm os customizados.  Ficam uma graça e ainda são sustentáveis. Pode-se rever os costumes de época por meio dos aventais usados em cada período da História. 
 É comum presentear amigos com os aventais trazidos das viagens,  enroladinhos num canto da mala comprada só para os acréscimos da bagagem. Lembram a cidade visitada, algum filme preferido,ou o hobby do presenteado. Não faltam os modelos que as escolas confeccionam no dia dos pais, das mães, estampando os rostos dos filhos, declarando um grande amor. Um rosto suave, outros com janelinhas nos dentes, orgulho de quem já está crescidinho, deixando de ser o bebê da família. Aventais que trazem o Self do encontro de Família. Dos afagos nos cabelos,  da mão no ombro que acaricia; o olhar úmido da saudade que sentiu e da alegria por estar, em chegar.  Sem falar das frases inevitáveis; como você cresceu! Já está na Faculdade, com esta carinha de menina? Tem namorado?   Conta pra tia.
Todos nós temos uma história com os nossos aventais, mesmo que hoje, eles não nos lembrem a mamãe apenas pilotando um fogão. Têm  também, muitos ao redor de uma churrasqueira.
 E quando  se está na casa de alguém e resolve dar um jeito na pia? Bem à sua frente um lindo avental que a amiga ganhou da outra amiga que carinhosamente o trouxe do México. Você acaba de vestir o dito avental, ela diz" preciso guardar este avental" Tóim !!! E agora? Tiro, ou continuo a lavar a louça ? kk
   Minha mãe nos dava aventais feitos de sacos de farinha, com bainhas de pano estampado, com rendinhas ou bicos de crochê.  Era mais que um avental. Tinha cheiro das comidas feitas em fogão à lenha, das flores do jardim regado todos os dias, das noites velando nossa dor de ouvido, nossas cólicas, da gemada que fazia cedinho, do pão assado nas folhas de bananeira no forno redondo.
 Nunca nos deixava sem presente de Natal, ou de aniversário. Sua criatividade  externava o seu amor na simplicidade de uma máquina de costura, do pano reciclado. Havia poesia escrita naquele avental. Será que soubemos ler os seus seus versos?

                                     Olynda Bassan


3 de jan. de 2017

Patchwork de mim

     







                                     No “ Patchwork” de mim.

        
        A vida segue  e mais um final do ano chega no tempo fatiado em frações. Fragmentos de um espaço convencional que nos foi emprestado na finitude do corpo.

        Não, não foi um ano fácil. Será que tem ano fácil? Vivenciamos a aridez  nas  dificuldades, tormentas interiores, sociais de um mundo em evolução.  Nos entremeios o amor provocou sorrisos e brilho no olhar. Também o experimento da paz, mesmo que não houvesse, no céu, um arco-íris. Em 2016 fomos alinhavando os nossos retalhos, tecendo nossa colcha, inovando nas peças de arte do cotidiano.  Sentados à nossa máquina de coser, com mãos graciosas fizemos casaquinhos de tecido “ pele de pêssego”, como a mãe de mãos primorosas, sonhadoras, envoltas no espírito suave da maternidade.  Sentimos a leveza, o perfume no ar.  Nos  construímos na doçura, nestes momentos de renascimento. Em compensação, no inesperado que espeta a pele manipulamos uma roupa de brim seco, áspero, pesado, onde não sabíamos o tamanho da agulha, bem como a linha que cerziria a trama, num mundo de incertezas.  Nos pontos, que uniram as tiras imperfeitas dos nossos dias, guardamos em silêncio as lágrimas que rolaram num canto dos olhos, aquecendo a face e temperando a boca. Ruminamos os pensamentos guardados no coração.  Cantarolamos músicas pela metade. Fizemos planos. Oramos e engolimos sapos, mas a gratidão esteve presente na sabedoria de um ponto bem laçado. Na pergunta de quem sou, me entreguei sem resposta. Então me redescobri em mistérios. Na arte do “patchwork” aproveitamos todos os recortes de tecido, de todas as cores e textura na construção do belo, dos desenhos sonhados. No dia 31/12 finalizamos parte do nosso trabalho de retalhos. Se não foi o mais bonito, foi o que conseguimos realizar nas técnicas e emoções do aprendizado. Na esperança, na confiança de um Pai que nos espera e nos aceita como somos, limpamos a máquina, lubrificamos as engrenagens. A arte recomeça nos desejos de continuidade da alma apaixonada pelo simples bem feito, bem olhado, bem sentido. Há significado em cada ponto, em cada pedaço não desprezado em uma gaveta qualquer. Nele, minha essência. Na poesia das mãos que fazem, dos pés que tocam a máquina iniciamos mais um ano. Feliz 2017. Que seja um patchwork em edição aprimorada.  Me coloco, ainda em tirinhas, entre as mãos de Deus.  Não importa a fração do tempo que me será ofertada; tenho muito o que costurar.  Amigos, juntos nesta Oficina de Coser. Abraço da Olynda.