14 de jan. de 2017

No elevador




                              No elevador


     Na espera do elevador, a relatividade do tempo. Quanto mais  temos pressa, maior é a sensação da demora. Por que parou; parou por quê? É a fulana do quinto andar.  sempre ela. Lá vem os julgamentos.
  Somos conhecidos, desconhecidos, a única certeza é que estamos num lugar apertado com pessoas chegando, ou saindo. Ninguém parado, vendo a banda passar. Os que chegam do trabalho, e os que buscam, na esperança e sola gasta.
 Muitos sentidos são despertados dentro de um elevador. Alguns agradáveis, outros irritantemente desagradáveis. No meu prédio, a lixeira comum fica longe dos apartamentos, e apenas um elevador; o social, sendo assim, temos que transportar nossos lixos por uma única via. Nada mais desagradável que sair toda embonecada, perfumada e se deparar com sacos de lixo no mesmo espaço. Muitos moradores esperam o elevador voltar para não incomodar. Pessoas educadas, de bom senso. Outras se desculpam, pois não podem levar em outro horário. Ás vezes eles já estiveram por lá, pelo rastro do odor deixado. Em contrapartida se sente os perfumes, as fragâncias do após banho. Moças de cabelo molhado, de um frescor invejável, partindo pra noite, pra Faculdade. Despertam a curiosidade de saber onde vão, quais cursos frequentam.  Homens cheirosos; como é bom! Outros com o macacão cheirando à graxa, tinta. Trabalham! Um privilégio.
   Ah, de manhã encontramos as crianças abraçadinhas no pescoço do papai, se negando a despertar. Mal lavaram os olhinhos de sono, mas a escolinha, ou a casa da vovó as esperam. Vejo também  as bonequinhas de cabelo com trancinha, "chuquinhas", todas tagarelas, parecendo que viram passarinho verde ao acordarem; papais calmos, sem estresse, no maior papo com os filhotes.  Os meninos de super herói, puxam suas próprias mochilas. Me preocupa as caras amarradas, preocupadas. Triste jeito de se começar um dia. 
 O elevador é palco de conversas truncadas. Nunca se sabe o causo todo. Ah, se curiosidade matasse. 
 Lugar para olhar o nada. Na caixa metálica, estou no espelho e me pergunto "se teria medo de quem sou hoje". Não me reconheço nas expressões que o tempo desenhou em minha pele. Os traços da alma são mais leves, mais jovem que a mulher refletida. E não há volta. É seguir e seguir. Espaço para se começar uma crônica: que calor! esfriou né? será que vai chover?
 Do inesperado. De repente um menino falante começa a lhe falar da escola, da menina linda da sua classe, lhe fazendo de confidente. Fico sorrindo pra inocência, ainda em seus olhos. E os " filhos- cachorro"? Meus Deus, com que carinho os abraçam! Nos sentimos na obrigação de cumprimentá-los, de acariciar o pelo, de perguntar o nome, pois é o ser mais importante daquele lugar.
 Elevador, espaço de fantasias para os amantes. Beijos roubados entre um andar e outro.  Querendo prolongar o tempo para amar mais. Câmaras? Ora bolas! E lá é hora de se lembrar delas? Mas, devia. Elas revelam os que se ajeitam, os que passam batom, limpam os dentes, arrumam a meia-calça, o cinto. E até com quem estamos saindo. Não se guarda segredo em um elevador moderno.
 Ah, se elevador falasse....

                  Olynda Bassan


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