19 de jan. de 2017

Em legítima defesa



                            Em legítima defesa.

Frase postada pela amiga Angélica. “ Confesso que já assassinei vários sentimentos em legítima defesa”.( Zack Magiezi)
Poxa! Um bom tema para uma crônica.
Parece uma novela, mas quem já não foi escritor e personagem deste combate insano, forjando um desejo que nos contradiz: eu não amo, quando se ama; eu quero ir embora, querendo ficar; o não quer dizer sim. Eu já superei, quando se está entranhado no desamparo até o pescoço. Palavras que só valem no momento, não se internalizam na discordância das escolhas. Mas o dia “do basta”, e não o “dia do fico” tem que sacudir o coração ferido, porque a pessoa que o machucou, não virá assoprar a dor, por mais que se espere no silêncio das insones madrugadas. No instante em que a decisão passa do coração à razão, enterramos a mala abarrotada de sentimentos que já pereceram além da esquina. Jogamos a última pá de cal, para que não definhemos nós. Ah, este amor próprio que vem a passos de tartaruga, deixando rastros inenarráveis de angústias e incertezas romanceadas.
No meu romance quero ser um escritor que incorpora ao seu personagem o seu lado mais drástico. O assassino inconfesso, que enrola os sentimentos e lança na vala do esquecimento libertador. E quando eu ouvir o último canto do cisne, como um “escritor fingidor” que mascara sua dor, estarei com uma taça de cristal, bem bojuda, girando a lágrima do vinho que escorre densa. Na sala ecoará uma gargalhada, ao som do “Aleluia de Handel”, como uma missa de exéquias. Na histeria me dou o direito de fechar as cortinas do primeiro ato.
E a vida segue como um teatro de muitos atos, com cenários construídos na arte requintada de se reescrever, no balanço das cortinas de veludo vermelho, que se fecham e se abrem na sequência do nosso enredo. Se no primeiro ato da opereta se debulha em lágrimas, procurando um lenço na bolsa, às vezes em vão; nos que se sucedem, o riso se faz presente num palco, até sem plateia, iluminado pelo brilho de um olhar verde esperança. Não serei mais o “escritor fingidor”, mas aquele que cavouca o que há de mais terno, de mais verdadeiro em mim, na gaiola de portas abertas.
No início um assassinato em legítima defesa, no pseudo egoísmo de se amar primeiro. No final, o voo da águia mulher, que transcende a coxia do espetáculo dantesco e rompe a imensidão de um novo mundo, no qual o seu baço olhar não sonhara.
Pela busca de si mesma,
na trilha da autoestima,
num sonho instigante,
declaro a ré inocente.
Olynda Bassan.

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