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Um novo coração que Deus me deu
E se a vida te entregar desesperanças, o
que fazer? Até os sábios choram. Há diferenças nas lágrimas dos que amam. Há
dores e há dores e o horizonte nem sempre nos permite chegar muito longe. Mas
para Deus tudo é possível.
Há anos tive um infarto agudo do
miocárdio. Puseram dois stents em meu coração, em duas arteriazinhas finas que
haviam entupido. Sofri bastante, senti a morte de perto, mas continuei a luta e
ganhei muito mais fé em Deus. Arregacei as mangas e com quinze dias estava na
labuta e comecei a enxergar esperanças novas, dessa vez, logo no comecinho do
horizonte. Vida nova, nova vida, um descortinar mais alegre do mundo. Resolvi
que iria amar-me um pouco mais e entender que a vida nos cobra coisas fortes
para que possamos ter uma vida decente, saudável, longeva.
E o tempo passou depressa e me descuidei
novamente e voltei a engordar e até acreditava que com aquelas mangueirinhas no
coração jamais teria outro infarto. Os remédios foram abandonados, passei a
comer tudo, e, certa manhã o peito voltou a doer. Nem acreditei que aquele mal
estaria e volta. Fiquei entre a dúvida e a certeza. Uma coisa me iludia.
Levaram-me ao hospital. O colega que me atendeu achou que não se tratava de um
caso de infarto agudo do miocárdio. Mas era o mal. O mal havia voltado. Meu
coração adoecera mesmo. O pior é que dessa vez em proporções muito mais
perigosas.
Lá estava novamente deitado em um leito
de UTI. Era a segunda via-crúcis. Havia perdido oitenta e sete por cento da
função cardíaca. Aos pés de meu leito hospitalar, chegou um colega
cardiologista e, dirigindo-se a mim, confessou que deveria submeter-me a um
cateterismo, mas que o risco de insucesso era alto e por isso necessitaria de
consentimento dos familiares. Gelei. Era tudo ou nada. Acabava de perder meu
chão e o horizonte, aquele mesmo horizonte aonde havia recuperado as esperança
e que cria, haveria de levar-me a um lugar cheio de vida.
Dia seguinte e lá estava eu na sala
imensa, cheia de luzes. Um velhinho se aproximou de mim. Cabelos branquinhos.
Identificou-se como sendo o anestesista que iria induzir meu sono. Um sono do
qual poderia jamais retornar. Um homem calmo. Tecia palavras de fé e de
esperança. Era a coisa mais importante que queria ouvir, ou melhor, que
necessitava ouvir. Exame feito e lá estou voltando a UTI, ande passei os mais
longos quinze dias de minha vida, ou de minha quase vida.
Os dias passaram, recebi alta da UTI e
fui passar mais alguns dias em um leito hospitalar, na área dos cardíacos
graves. E foi aí que recebi o veredicto. Meu cardiologista me informou que
estava inválido, não conseguiria mais viver normalmente com o resto de músculo
cardíaco que me restava e que era o mais novo candidato a transplante cardíaco.
Gelei, chorei bastante e nenhum consolo me servia. Meu horizonte havia se
escurecido. A morte me rondava.
Conheci um anjo de luz. Dona Francisca
Batista Leite, minha sogra. Um ano atrás eu havia ido enterrar sua mãe, uma
velhinha muito querida. Morava no alto sertão paraibano. Vi-a chorando muito,
retirei meu lenço limpo de um dos bolsos da calça e o ofereci para que
enxugasse suas lágrimas. Recebeu-o após me agradecer. O tempo passou e me
esqueci daquele lenço. Continuei meu tratamento cardíaco. Ela havia feito uma
promessa com Nossa Senhora e cobrira uma imagem da Sagrada Família com aquele
lenço que lhe havia ofertado no velório de sua mãe.
Meu primeiro retorno ao cardiologista
foi com 30 dias. Estava bem melhor e ele se surpreendera com a involução das
lesões do meu coração. Segundo, terceiro, quarto mês. Até ouvi dele que não
daria mais um atestado de invalidez a mim. Ouvi dele que algo de estranho
estava acontecendo e que jamais teria a coragem para me levar a uma sala de
cirurgia e realizar um transplante cardíaco. O que teria acontecido? Era a
minha vez de dizer ao Doutor Fulano que Nossa Senhora havia operado um milagre
em minha vida. Disse-lhe: Acredito em um Deus. Um Deus imenso, criador de todas
as coisa do mundo. Um Deus que, dependendo da fé de cada um, cura para sempre
os que Nele crê.
Hoje faz cinco anos do milagre e estou
com a vida novamente e consigo enxergar milhares de estrelas no horizonte de
minha vida, como se Deus quisesse dizer aos que não creem que É maravilhoso.
Todos os dias ponho a mão no peito e rezo um Pai Nosso bem diferente dos
outros. É em Sua homenagem e em homenagem de Dona Francisca, a outra Nossa
Senhora que Deus pôs em minha vida.
Se eu pudesse, daria um montão de minha
fé, aos amigos que tenho e que se proíbem a si mesmo de crer na magia inenarrável
de um milagre e no outro coração que ganhamos quando Nele acreditamos sem nada
temer. Sou uma prova viva de que Deus é imensamente misericordioso.
Relato do escritor Paulino Vergetti Neto. Texto reflexivo, de Alerta, de Fé. Emocionante, caro amigo, também poeta, cronista, romancista....