21 de jul. de 2017

Parabéns Luíza





 Parabéns Luíza

O dia amanhece na penumbra, chuvoso, o que nos parece causar um sentimento de melancolia. Não me dou conta do cotidiano sem Sol, nem do céu sem o dourado que alumia a relva. Vou pela estrada buscando vida – a vontade vai à frente do carro, na força que o Amor movimenta. O coração explode na ansiedade de vislumbrar o rosto meigo da aniversariante Luisa. Receberá o mimo deste ano: a cesta de café. Com as mãos estiradas faço a entrega e recebo um cesto de aconchego nos bracinhos que me enlaçam, na gratuidade de criança.
Parabéns querida neta, receba a benção da avó, do Anjo da Guarda e do Menino Jesus. É palavra no poema que nos conta da felicidade, é luz!!! Preces de louvor por sua vida, Luisa. Parabéns aos papais que educam e amam. Beijos mil. Ô delicia começar o dia num rio de ternura.
Na volta me coloquei à direita, calmamente, sem pressa, na fila de carros que se perdia de vista. Vim rememorando o instante dos olhos que sorriam e o sabor do café que se fez poesia. E viva a vidaaaa. Beijão da vovó Olynda








Os Refugiados

Hoje é o ' Dia dos Refugiados". Minha homenagem em poesia e oração.

LÁGRIMAS DE UM POVO ERRANTE, folha solidão,
imagem de sua lágrima.


"Vidas que se acabam a sorrir,
luzes que se apagam e nada mais".
Charles Chaplin

Noite fria , já é manhã -,ainda escrevo.
A música me faz lembrar dos refugiados errantes.
Vidas vão sendo ceifadas pelos mares encapelados.
Ondas se projetam ao céu. Conhecem o inferno,
das almas que navegam.
Nada leva a lugar nenhum.
Quem sou? Um errante? Um rótulo?
Carrego o de “refugiado”. Um número.
Expurgo de um nome, de um rosto sem identidade.
Sonho alimentado no direito à vida.
Um canto, que sintam minha humanidade!
Travessia doída. Mãos se desprendem como
laços de fita seccionadas no sangue da esperança.
Rostos que se distanciam, olhares que se afastam.
No meio do mar - queimam, a pele e a alma.
O sol, a sede, a fome.
Cadê meu menino? cadê meu pai? minha mãe?
Cadê minha boneca, minha bola?
Não desisto dos meus sonhos.
Sou Gente! sou Esperança!

recorte do olhar

Da sessão -No aqui e agora


               Recortes


No meu olhar em recortes
saí pelo quintal do Villa Verde,
tão meu, a fotografar
detalhes da Natureza em Criação.
Longe de um olhar distraído, mas na emoção
de garimpar belezas entre o Céu
e a Terra. A lente curiosa as encontra
no meu jardim e no seu.
Nas formas reveladas, nas cores, no voo dos pássaros
teço minha alma em versos.
Me inspiro no querer ser tocada
no que tenho, no que me faz sentir
pertença deste mundo, onde Deus se Cria e se Recria.
Do sacrário interior, nasce minha oração da manhã.
E dos meus lábios meu Amém.
Bom dia.
Olynda Bassan

Aniversário- Minha mãe










                               Hoje é dia de Ação de Graças.


A imagem pode conter: 1 pessoa, sorrindo
    

           Durante o momento da Consagração, reverberando a Partilha da vida de Jesus oferecida, antes da dor, eu me lembrei da minha mãe carregando- me nas entranhas cansadas.
Aproxima-se a hora do parto, ela sente-se pesada, fatigada nos afazeres da casa, da fazenda. O coração parece crescer. Por certo lhe dói as costas, seus pés incham, o chinelo já lhe aperta o peito do pé – arrasta? Caminha lentamente entre os corredores da casa e o jardim de suas flores? Será? Não imagino a D. Malvina devagar, nesta vida. Uma locomotiva - puxa a quem se alinha em seus trilhos. Seus lábios avolumados suspiram pela hora em que a criança nascerá. Já não se acomoda com o peso do seu ventre, mas vai à bica, ao moinho na beira do riacho, onde os vizinhos da fazenda trocam o milho da roça, pelo fubá. E desce a ladeira quantas vezes for necessário. Incansável, esta minha mãe, que desponta como o Sol., no cheiro do pão. Assim foram os partos dos meus irmãos, lá na Fazenda em Bocaina.
Nas mudanças de caminhos, nasci na cidade de Gália. Vida urbana, mas de vida calma, não tinha nada, não. Muitos filhos sedentos de atenção, avós para cuidar e um quintal onde as flores sorriam no florescer. Trabalhava o odor da terra. Inquieta era sua alma. Sempre ia....
Como seriam as minhas roupinhas? Prestimosa como era, elas deveriam estar até engomadas, com rendinhas e “fru fru”. Eram novas? Acho que sim. Antes de mim nascera o Pedro. Ah, poderia ser herdada de uma priminha. Eram muitas as crianças que a parteira “pegava” naquela família. Não, eram novas!
Olhe, acho que tinha Cróstoli para receber as visitas, com um café. Imagina se não!!!! Era véspera de São Pedro. Tradição na família, era fazer esta bolacha. Posso apostar que a minha mãe abriu a massa, “ os foios.” E o meu pai, a fritura. Assim era!
Eu devaneio a pensar na fogueira se consumindo no terreiro de café, iluminando os ares; as espigas de milho douradas chamuscadas pela brasa, a batata doce assando, as bombinhas estourando, bandeirinhas, roda de viola, gritaria da criançada rodeando os quitutes, no sítio em festa. O mastro erguido na ponta do bambu, que o vento balança na fria noite de junho. Minha mãe silenciosa se põe à espera, nas dores que anunciavam desde cedo, a ausência da espera. Não era a festa lá de fora que a preocupava, mas a festa da vida, que se romperia do primeiro útero. Não era novidade, não. Nem sentia o medo de marinheiro de primeira viagem, mas amava...
Sete décadas! Sete, número pleno. Sete vidas tem o gato. Setenta vezes sete, se deve perdoar. Na ciranda destes simbolismos e significados, me incenso na plenitude do nosso Pai, que desce em forma de bênção e sobe aos céus em forma de Oração, neste meu aniversário. A minha oração pela vida, pelo amor, pelos meus avessos, pelos meus retalhos. Me costuro em suas cores, texturas, em alinhavos. Nos meus atalhos me perco e me acho nas incertezas dos mistérios do meu inconsciente. Quantos anos tenho? Os que me faltam? Os que me rondam em aprendizado nos filhos, que me mostram a vida em continuidade?
Minha mãe ... acabou a espera, nasci.
Renasci. Me reinventei mil vezes.
Chorei, sim. Mas tenho ainda o sorriso largo.
A paixão pela vida, me move.
Aqui estou! Pra quê?
Apenas gratidão! Louvor!
Metade de mim é vida,
a outra também.
Cheguei nos ombros que me sustentaram até aqui.
São 70 anos. Obrigada
Heeee, parabéns pra mim rssr
Abraço bem apertado da Olynda.

Lançamento da Antologia Aberta



Convite


É 07/07 sexta-feira às 20h
Local: Teatro Municipal " Celina L. A. Neves"
Solenidade do aniversário da ABLetras.

São 24 anos caminhando entre letras e Cultura. Já, já Jubileu de Prata. Grande evento.
Nesta noite acontecerá o Lançamento da Antologia Aberta 2017.
Seria prazeroso encontrar-me com amigos e parentes na vivência de um sonho - publicação de alguns escritos meus.
Parabéns à ABLletras na pessoa de sua Presidente Rosa Leda Accorsi Gabrielli
.

Aniversário da Academia de Letras de Bauru


Bauru fazendo memória

As festividades do aniversário da ABletras continuam. Tarde charmosa no espaço histórico de Bauru, a nossa Estação Ferroviária.. No crepúsculo a voz do Madrigal RÉGIA, desvendando o lirismo na arte da Literatura e d d da música. Obrigada ACADEMIA. Inauguração da Exposição " Memória da ABletras".

Recado ao progresso

     Recadinho



Ó progresso
Contente- se
Com o quinhão de céu
Que me roubaste
Alma poeta
Se mantém viva
Nos nascentes
Nos poentes
Na névoa
Da madrugada
Não me tire
O frescor da poesia
Bom dia

SPA - Sindrome do Pensamento Acelerado




SPA




Na vinda para São Paulo, lia o livro de Augusto Cury " Maria, a maior educadora da História, onde o autor fala de uma " doença" - SPA. Pois é... Síndrome do Pensamento Acelerado. A mente não para, não se dá um tempo de relaxamento, de sentir o prazer da calma no respirar devagar, de sentir o corpo, meditar, de enxergar a beleza que a envolve.
Pensando bem, tenho a SPA, saudável rsrs. Minha mente pensa em crônica, faz recortes reflexivos em acontecimentos banais, mas que 
se revestem de importância, no olhar do sentido.
Ao descer pelo elevador do idoso percebi que ele é bem mais lento em sua operacionalização. Respeito aos que experimentam a perda da agilidade pela idade, ou deficiência física. Quanto é necessária a acessibilidade - qualidade de vida e direito no ir e vir.
Em seguida enxergo um funcionário do Metrô, com severa deficiência em uma das pernas, amparado por duas muletas e em desafio ao próprio corpo, desce a escada rolante com agilidade. Ele não espera o processo passivamente, avança escada à baixo. Seu semblante era de garra, de quem tem uma missão a realizar.
Assim é a cronista com SPA, enquanto espera, espera, o momento de " pegar" a passagem grátis, escreve sobre os ensinamentos que a vida cotidiana nos presenteia. Simples, assim. A Olynda não será a mesma que chegou - aprendeu a enxergar o sentido na máquina, na pessoa. Volto à leitura
Bom dia
.

Exploradores a postos


                  Exploradores a postos...


   Chácara, festa, música, amigos e um milagre. As crianças romperam o seu cantinho solidão; procuraram caminhos alternativos, onde não sentissem o prazer em uma tela artificial. Perderam o contato com o celular para extrair no pouco que as cercavam, o muito em contemplação, interação com o fantástico da vida real. Apenas se ouvia o som de muita conversa, risos e do balanço no seu nheque, nheque. Elas se revezavam em harmonia – do saber esperar sua vez.
Naquele lugar, as árvores foram cirurgicamente removidas, respeitando a sustentabilidade. Entre as crianças não havia miséria emocional. Não assistiam um programa sobre a Natureza, mas viviam-na em todos os sentidos: na maciez da pelagem dos animais, nas lambidas de carinho, no calor do Sol penetrando entre as copas da árvores, na alegria do amigo e no cheiro da noite, que não se decifra.
Exploravam o lugar, procurando detalhes no aroma, nas cores e nos animais silvestres. De repente corriam para um arbusto para contar os macaquinhos ao alcance das mãos; em outros momentos eram as borboletas que davam o ar da graça, com leveza e suavidade.
Os pais deixaram a liberdade correr solta. Uma vez ou outra, observavam se os exploradores estavam por perto.
A noite foi se aproximando no pôr- do Sol espelhado, pleno de mistérios e encantamento. Pedia para ser fotografado. Quando dei o primeiro click, uma criança me disse: “ O pôr- do- Sol é lindo, né?”
Pude crer que aquelas crianças contemplavam a Natureza, aprendiam a amar e a conservá-la. Se fizeram coadjuvantes da Criação. Um jeito prazeroso de encontrar Deus nas entrelinhas do cotidiano. Transportaram- se do mundinho particular, de olhos cabisbaixos, enterrados, para o olho no olho, para o abraço e para o sentido do ar puro que reinventa o prazer da alma.
Eu as vi em sua criancice.
Olynda Bassan

12 de mar. de 2017

O Quebra Nozes

                                     O Quebra Nozes


Há passeio que não é um passeio qualquer; nos faz acreditar num mundo solidário, estrelado, “ de encontros, apesar de tantos desencontros”
Tateando um sonho fui ao Teatro Alfa assistir o espetáculo Quebra Nozes. Estava sozinha, com o tempo todo meu. Entro em um cenário estonteante, na apresentação de uma das melhores Companhias contemporâneas do país, a ‘Cisne Negro CIA de Dança”, que “acredita que a cultura é uma ferramenta de transformação social, alimento de esperança e sonhos de muitas pessoas. Tem participação de Projetos sociais em São Paulo e interior do Estado. Vem realizando o Projeto DANÇA NOS HOSPITAIS, humanizando o ambiente hospitalar, com arte, cultura e beleza, com importantes resultados de sensibilização e esperança”, entre outros. A Companhia viaja pelo Brasil e pelo mundo distante, com paixão e profissionalismo, vibrando a cada apresentação, como se fosse a primeira, ou a última.
Bailarinos, bailarinas brasileiras e internacionais tecem um espetáculo que nos enlaça na harmonia, beleza, arte e lirismo.
Fora dos palcos, no Saguão do Teatro, acontecia uma hora antes do espetáculo, a Cantada de Natal” com apresentação de corais convidados. No meu horário tive o prazer de ouvir o Coral Mix, tendo como maestrina Emily de Souza. Um Projeto Social da Água Funda com “crianças” de todas as idades. Também músicos profissionais engrossam as vozes jovens. Os participantes cantavam com vontade, dançavam sem receio de uma plateia que viera para assistir o “Quebra Nozes”. Eles se sentiram em casa e deram seu recado num canto de amor pelo projeto; pela vida.
A Emily, pelo seu gingado e entusiasmo, me lembrou a protagonista do filme “ Mudança de Hábito”, Whoopi Goldberg, como Delores Van Cartier. Era gostoso enxergar o seu sorriso, sua dança, e, o povo sorria junto, acompanhando o ritmo da emoção das músicas natalinas e populares. Percebi que tinha uma voz diferenciada; então ela me diz que seu timbre é soprano lírico dramático. Uma senhora, de cabelos prateados a acompanhava ao teclado. Tem uma banda. Fiquei imaginando a vibração desta mulher no palco. O show está garantido. Que trabalho social encantador” O olho d’água da esperança”.
De repente surge para abraçá-la a senhora Hulda Bittencourt, nada menos que a Diretora Artística da CIA Cisne Negro. Dois Projetos de Cultura que se abraçam e se entrelaçam na arte, independente do status social, dos cantos que encantam. E aqui, abro um parênteses: Hulda me conta que foi parceira de nossa querida Yola Guimarães, eterna professora, bailarina bauruense; Diretora do Grupo Imagem e Balé Yola Guimarães. A estreia deste espetáculo, O Quebra Nozes foi uma coprodução do Balé Yola Guimarães, com o Cisne Negro, em BAURU. Fiquei emocionada por tal revelação, querida Yola.
As crianças dão pulinhos de alegria quando d. Hulda as convida para entrarem na escola de balé da Companhia. Periferia e os Jardins trilhando pela mesma ponte sem preconceitos.
Simpatia e humildade perfumam o ar daquele espaço.
E assim surge a crônica. Num olhar que se interessa, pergunta, busca o sentido mais profundo dos fatos. Não apenas se assiste, mas se descortina sonhos e paixões na alma daquela gente.
Um espetáculo, pode não ser, só, um mero espetáculo.
Olynda Bassan
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11 de mar. de 2017

Mãe sementeira

                          








                  Mãe Sementeira


 No subúrbio da cidade a mãe se levanta junto com o Sol que doura o mundo, e dele suga a energia para pisar o seu chão duro.  Em sonho, areia fofa e morna.
     Na folhinha pendurada na parede descascada da cozinha, com sua velha caneta, os dias são riscados um a um. Seria mais um dia, ou menos um?   Distraída da vida, com a xícara de café e a fatia de queijo. a mulher olha pela janela. Nos olhos, a chuva mansa da saudade, escorre em oração. A mãe fixa o infinito como se não houvesse nada além dela.  Cristalizado em seu olhar está o dourado da medalha reluzente sobre peito do filho. No amor gerado no primeiro útero, a mãe enxerga o invisível e espera...espera...
    Em suas  idas e infindas vindas ao portão da casa, a mãe assola a terra, pisoteia  a grama como se fosse uvas no preparo do vinho festivo, celebrando  a partida da ausência, que a contorcia em prantos.
    No sorriso da alma, a mãe planta, semeia flores; decora o caminho.
           Hoje, as flores perfumam a prece.
A mãe inicia um  outro caminho em direção à Catedral, de sacristia com móveis escuros guardando as vestes sagradas. Ela cuida e enxerga em cada detalhe um símbolo da Liturgia do Amor.  Acaricia o tecido da manga, como se a sentisse entrelaçada num abraço de memórias e reencontro. Abre uma portinhola, vislumbra o ouro e se imagina bebendo o vinho da alegria, na taça celebrante da vida.  A presença na ausência do olhar a faz rodopiar com os braços abertos, indagando no eterno monólogo ‘Qual o chão que o recebeu, combatente valente?  Não me consola a narrativa do Governo me querendo convencer que você, meu filho, caiu no palco da batalha como herói, defendendo a Pátria. Meu Eduardo conheceu o caos, o horror da guerra da pior maneira. Tão, tão jovem partiu  na ilusão da propaganda política, na euforia, como se o seu fusível fosse o controle do seu Playstation, num jogo de” war games”. Sentindo-se herói desligaria a televisão, tomaria um suco e me encontraria no corredor  lhe dizendo ‘ filho, já é tarde, amanhã tem aula.
A realidade nua e crua desfez a festa da vitória, no olhar opaco e melancólico daquele capitão com um pacote no braço e uma medalha nas mãos. Não era um faz de contas.
Pelo caminho das flores ela foi tecendo novas tramas de uma vida não experimentada,  do  luto que não sabia viver.
 Seu café da manhã contemplando o nascer do Sol não mais se reveste da dúvida, mas da certeza de que estará só no hoje, e no amanhã.
 Não desmanchou o seu quarto; ainda sente o cheiro nas roupas. Não do perfume que usava. Acho que era “Animale”, mas a essência do corpo, da alma, da memória de quem foi.
  Aquela mulher, hoje, já clareia a cor dos seus vestidos, coloca cor na palidez do  rosto, no cinza da olheira que a dor tinge. Cabelos  alinhados, passos rápidos, entra e  sai do quarto do Eduardo por motivos banais. Se arvora neste pedaço sagrado da casa, que é a sua Catedral, onde se sente forte e plena diante dos pilares desafiantes e desafiados.

                                            Olynda Bassan


1 de mar. de 2017

Um homem e um Carnaval



                                                        

                         Um Homem e um Carnaval!

São quatro horas da madrugada desta quarta-feira de Cinzas, primeiro de março de 2017. Inspirado, após passar o período momesco recluso em meus estudos habituais, resolvi pôr em prática o que aprendi com esses dias de quase absoluto silêncio, descobrindo a outra face da vida, onde nem sempre entendemos ou sabemos lidar.
Pensei bastante na imensidão de pessoas que não puderam sequer sorrir. Os pacientes terminais, abandonados nos leitos mal tratados dos hospitais públicos, carentes de homens e de almas. Apenas quem conviveu ou convive com esse cenário desolador, pode maturar melhor sua concepção de vida e de morte, essa finitude parcial que quase incompreendemos fora da fé.
Meu carnaval me pôs em um silêncio confortável e por isso resolvi aprender mais com os erros que cometi no passado e nos que poderão encontrar minhas fraquezas, doravante. Esforçar-me-ei para que não me encontrem. Preciso melhorar para entender ainda mais a vida e a morte, não como coisas banais, passageiras, que não possuem em si uma barulhenta explicação, um extraordinário convencimento, mas como coisas necessárias e pertinentes à própria evolução da alma humana.
Gosto demais de estudar a história de Deus e do homem. Às vezes procuro e acho atalhos que me fazem atravessar com melhor entendimento, ensinamentos bíblicos, feitos por homens inspirados neles mesmos. Felizmente são poucos. É complicado reproduzir aqui neste artigo, o que minha consciência mastigou e deglutiu nesses dias que me refiro neste artigo. Dias de profundo enriquecimento espiritual. É justamente nesses períodos onde encontro a melhor face de Deus, a olhar-me carinhosamente e me mostrar veredas e estradas imensas. Ele parece querer dizer-me que há horas para se andar nas veredas e outras para se andar nas vastas estradas do mundo. Concordo.
Ouço Noturno, de Chopin, esse outro deus que conheci ainda criança. Noturno tem o poder de transportar-me para paraísos cada vez mais próximos de Deus. Que bom! Meu amigo, Noturno, revelando as coisas boas que a vida me mostra sobre ela mesma e sobre a morte. Chopin é mesmo genial.
Preparo-me para mais alguns poucos anos de vida, mas me esperanço em tê-los em muita sobra, em real abundância. Limitado, após dois infartos do miocárdio e com apenas onze por cento da função cardíaca a manter-me vivo, não posso pular nos salões enfeitados dos carnavais da vida, mas posso transformar-me em um Pierrô pensante. A Colombina se afastou, a vida tornou-se menos movimentada com o fisicamente admirável, mas o espírito está sempre em exaltação nas procuras mais essenciais a um homem comum que encontrou o significado da vida e da morte e que se encontra pronto para partir, apesar de não querê-lo. Quem quer?
É preciso que se construa uma fé admirável e uma obra consistente. A primeira, tenho a certeza que encontrei. A segunda, dirão ou não de mim, sobre mim, os que me sucederem. Tentei ser bom. Como sempre disse, poderia ter nascido velhinho para morrer criança, nos braços de minha mãe. Mas, com o tempo aprendi que a vida é perfeita. Tanto que nos deu a morte, como ponte, para passarmos para outra dimensão. Já pensaram se vivêssemos eternamente velhos e envelhecidos? Que horror seria a vida.
Pois bem. O carnaval me deu carnavais dentro de um silêncio fabuloso. A única música que me dispus a ouvir foi Noturno. As outras me impuseram goela abaixo, nos pequeninos instantes que saí à farmácia ou à padaria para comprar o absolutamente necessário.
E hoje à tarde, quando voltar para detrás do birô de médico e fazedor de amigos, deverei pôr em prática o que aprendi com Deus e meu silêncio. Ainda saio dele com o poder do perdão, rarefeito. Tentei passar uma esponja em algumas coisas que persistiram em ficar. Tem nada não. Haverá outro silêncio mais forte e apagarei o resto que não consegui desta vez. Ficaria sem graça resolver tudo em apenas quatro dias. A vida é dinâmica demais para estabelecermos uma semana para sanar nossas faltas.
Findo por aqui. O salão está vazio. Há um enorme silêncio na rua à frente do quinto andar do prédio onde moro. O dia já clareou. Um vento frio me traz Deus e me pede para sair dessa cena e entrar em outra. Há muitos seres pobres e miseráveis esperando por mim, por meus cuidados profissionais, e, mais do que isso, pelo meu amor, enquanto ser humano que se prontificou a doar-se aos doentes, sem olhar sexo ou condição social, a ver o tamanho desigual que possui cada sofrimento especial. Quatrocentos quilômetros me separam do ambulatório.
Enfim, valeu a pena ser esse Pierrô diferente que se debruçou sobre as coisas que preenchem a vida e a morte. Agora é ir. Espero ter inúmeros Carnavais. Quem sabe ainda não irei visitar Papai Noel na lapônia? Tomara, Deus meu. És misericordioso demais para me presentear com coisas maravilhosas.
Paulino Vergetti Neto

25 de fev. de 2017

É Carnaval?







        Para os que alimentam a alma com o amor, com os sonhos que resistem o passar do tempo. Para os que se lembram do primeiro amor, se procurando no salão, ao som da marchinha que dizia o que o coração gritava, não dito, no olhar tímido.



É Carnaval?

“Meu” moreno jambo, desfilas pelo salão
Camiseta laranja, pele bronzeada. Sorriso paixão!
Aura purpurina; no teu negro olhar, sublimas a canção
‘vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é Carnaval.

Em meio à folia teu coração sonoriza em silêncio
Vem, rompes as cortinas das serpentinas,
abres as alas entre os confetes.
Sintas as delícias do olho no olho na alegria.
Me enlaça no sorriso, me rodopia.

No beijo sonhado; o que vale o tempo?
No beijo da alma; o prazer atemporal.
Na saudade; a magia de um encontro.
É Carnaval? Terá cinzas? Nem sei...
Do meu amor, sei eu.

                                                                                                                     Olynda Bassan

21 de fev. de 2017

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No meu Blog ( Olhar do Cotidiano) vejo a marca de 30.100 visualizações. Apenas registro sem vaidade alguma, pois nem sei como esta contagem é computada. Mas, enfim, apenas para massagear o ego, eu reeditei uma destas poesias que me acordam, no verso" Um sorriso espera por você" Como cenário, o verde mar de Recife, espreitado pela janela, viajando sozinha, um olhar que se perde na imensidão; só poderia tecer uma poesia nostálgica, mas com uma nuvem de ternura sobrevoando o coração, que me faz sorrir. É o "eu lírico" que me empresta o tom. Coisas de poeta.

Fuga de si.

A cidade dorme
A poesia me acorda
"Um sorriso espera por você"
Está no olhar luzente que contempla
o horizonte do verde mar, com
suas metáforas e poesias
Ternura do existir
Piso em cristais de areia.
Acariciam meus pés,
como se afeto fosse à
esta alma embotada, sem amor.
Minha alma não está nos meus pés.
Eu a sinto nas espumas das saudades
Banhadas de mim... de você
Arrecifes domam águas revoltas
Batem, mas os mistérios não transpassam.
Assim é o medo de não se ter vida
Muralha, leito seco que me abraça
És rocha de conchas prisioneiras de sonhos
Não se expandem nos fachos de luz
Que o alumia e não vês
Peregrino em fuga de si mesmo
Tão perto... não me encontras,
na magia de um querer absoluto
Almas sedentas devaneiam...
no espaço da quimera
Conchas espalhadas na areia,
beijadas pelas ondas; movimento de você
Não vejo ondas
A cidade dorme.
                                                                   olyndabassan
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