4 de dez. de 2016

Nosso próprio vinho






     Caminhamos, caminhamos ao encontro do pote de ouro no final do arco- íris, a plenitude do além mar, além vida. En construção nos falta vinho. Sempre insatisfeitos na ânsia de nossa finitude. Falta uma gota, um gole, uma garrafa e estamos sós. De nossas perdas sabemos nós. Da explosão da alegria que transborda a alma, sentimos nós. O outro participa, chora, ri, mas o número exato do sapato, onde nos acaricia ou aperta são os nossos pés que sentem na pele. A emoção do nascer e do morrer é mágica. No final do dia, após o cansaço de ganhar o pão com o nosso suor e simpatia, a dois, três, ou avizinhando nossa solidão nos acolhemos com o próprio vinho que alegra, que sacia no monólogo do silêncio. Há prece, há contentamento no encontro de nós mesmos, no momento que nos esvaziamos, desnudamos nossos pés, sentimos o chão frio e ao mesmo tempo acolhedor. Desate as sandálias, bate a poeira que acoberta sonhos e sentido da vida. Tim Tim. Celebremos a vida amanhã. Somos eternos e nos entremeios sentimos a delícia de conviver com pessoas amadas, queridas que deixaram em suas pegadas o valor da vida. Que nada, que nenhuma carência, desamparo, nos diminua na vontade de bater asas e conhecer nosso próprio voo.
No vinho que me faltou hoje, compensei na lágrima que tingiu a taça. Boa noite.

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