19 de out. de 2016

Você não me representa

Olynda Aparecida Bassan Franco
29/09/16 07:00 - Tribuna do Leitor
Não me representa
Olynda Aparecida Bassan Franco
As eleições se aproximam e me preocupa a falta de representatividade na Câmara Municipal e no Poder Executivo pelo voto nulo ou em branco, motivados pelo desencanto, cansaço de promessas vãs, ilusórias, não alicerçadas na concretude das propostas. A propósito desta omissão, do sentido que damos ao voto, ao direito e dever de se fazer escolhas, apesar das desilusões, resgatei um texto escrito há um tempinho. Um texto atemporal.
“Outras eleições teremos...
Eu não estava representada naquele episódio circense, dantesco, vexatório do Plenário da Câmara dos deputados. Você poderia pensar que foi por omissão, por anular meu voto, por não exercer o meu direito e dever de cidadã. Não tive a oportunidade de me expressar, como deputado você me representa, ou não me representa mais. Voto errôneo. Em suma, há muito me sento às margens do Legislativo federal. Suas águas não molham meus pés, nem com a suplência pela vacância de um cargo. Não mergulho na calha deste rio. E por quê?
Sou eleitora votante em candidatos bauruenses, mesmo não sendo adotado no Brasil o sistema de voto distrital. Havendo a pulverização dos votos, a prata da casa não se elege e colocamos representantes, passíveis de tais atitudes, nada condizentes com o seu cargo conquistado nas urnas democraticamente. Melhor seria dizer encargo, pois estão a serviço de uma Nação e por uma Nação.
Tenho poucas certezas. Tenho mais perguntas do que respostas, mas estou convicta de que meu eleito, deputado federal de Bauru, teria desempenho moral, postura parlamentar. Votaria justificando seu voto pelo processo em si, e não por uma “parafernália” de motivos, distante da causa maior. Cômicos, se não fossem trágicos. Momento crucial para o Brasil, sendo conduzido por meninos brincalhões, desfile de egos, marionetes do poder, interesses próprios; salvo algumas exceções. Não se ouvia, não se respeitava a opinião dos “sua excelência”, caso fosse discrepante da sua. Campanha política antecipada, vitrine.
O que justificaria eu não eleger a quem eu conheço, a quem me encontro no café da esquina, no templo, no teatro, na mesma calçada? Batistando aos sábados em papos calorosos? Em algum momento ele teria que olhar nos olhos do seu eleitor e prestar contas do seu mandato. Eu poderia apertar sua mão em agradecimento, ou por cobranças. Não faz sentido. Vivemos a vácuo. Nos falta o ar da confiabilidade, da governança, da proposta consistente, constitucional. Nos falta a governabilidade técnica, embasada em conhecimentos, estudos, em detrimento aos casuísmos políticos.
Conversando com um político local sobre esta vertente da cidade, ele me dizia que os bauruenses batem na trave de maneira exaustiva e repetitiva, mas não fazem um gol de placa, ou um gol magrinho. Outro vereador me disse também que 50% dos votos dos bauruenses são destinados a candidatos de fora. Dos 50% restantes, de 20% a 30% são nulos e brancos. Neste painel de votação se restringe as possibilidades de se eleger um deputado federal que nos represente.
Em paradoxo, colocamos limites à representatividade de Bauru no cenário político brasileiro além dos nossos muros, dispensando o nosso voto aos paraquedistas, que se distanciam assim que se consolida o resultado das urnas. Mesmo que alguns políticos da região nos representem em questões subjacentes, pontuais, ainda assim me pergunto: por que não um bauruense? Plenário Federal, você não me representa.”

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