2 de abr. de 2018

Filhos especiais - Homenagem

                         Filhos especiais ---- Pais especiais 
                           Minha homenagem


  Minha homenagem carinhosa aos pais, às cuidadoras, Instituições que amam os filhos especiais, com o maior amor do mundo. A joia que brilha nas mãos e na alma. São pepitas de ouro provadas na chama do amor.
  Seu nome seria  Maria?
  A psicologia diz que seria conveniente quebrar a rotina para que a mesmice não se instale, para que o cérebro seja estimulado, evitando doenças e inércia. Assim, uma vez ou outra, mudo meus caminhos, frequento missas em horários alternados, experimento novas sensações nos encontros com amigos, em outros abraços. Naquele domingo, participei da missa às 10h. Momento de alegria com muitos Jovens cantando, crianças que se movimentam ao som da música, pais embevecidos. Padre Carlos ama as crianças de sua paróquia. Elas se sentem em casa. Seguindo o conselho, mudei também o lado costumeiro de me sentar.
Falamos tanto em mudanças...experimente trocar o lugar de se sentar no banco da Igreja, no teatro, na aula. Não é tão simples. Nos dá uma sensação de estranheza, de desconforto. Encontro as pessoas sempre nos mesmos lugares.
À minha frente, na diagonal, havia uma cadeira de rodas. Uma moça levemente maquiada, brincos discretos, uma sandália neon, abóbora. Acho que era Melissa. Era só sorriso. A mãe dispendia cuidados a todo momento. Saciava -lhe a sede, enxugava o líquido que escorria de sua boca. Tinha uma sacola de coisas. Chamou-me a atenção o fato da mãe estacionar a cadeira bem à frente da nave da Igreja. Poderia tê-la deixado mais ao fundo, para não “atrapalhar”, desviar a atenção dos fiéis. A prestimosa mãe se levantava a todo momento, suprindo necessidades. Eu observava os trejeitos das mãos inquietas, da face com espasmos involuntários, do pescoço que não se aquietava. A mãe se comunicava com a filha, com a serenidade de quem ama demais.
E durante a missa fui me questionando como seria a missão de uma mãe ao compartilhar sua vida, com a vida de um filho especial, 24 horas por dia. A conexão de alma com o entendimento, com a resiliência da doação que não se mede, do tempo que não mais é da mãe, tão pouco do pai parceiro. O tempo se dilui nas necessidades do filho amado. Noites e dias se enlaçam se preciso for. Nas noites de vigília, as paredes brancas do quarto em penumbra vão registrando com palavras invisíveis, momentos das incertezas, das noites tenebrosas, da temperatura que oscila e da esperança na concretude da Graça, da vitória do guerreiro, da guerreira. Espera-se o amanhecer e ele não chega... marcas avermelhadas nos joelhos que se entregam em oração, na vida que sempre recomeça no sorriso que ameniza a olheira, das noites mal dormidas. Missão indescritível, até para um poeta. É ser mãe.
E tudo passa...em uma manhã de domingo escandalosamente bela, emoldurada pelo céu nas cores de turmalina azul celeste, se celebra a vida na face rosada do filho. A alegria da família ecoa nos passeios do parque, do futebol, do clube, da casa da avó, da Igreja. Não se empurra a cadeira, movimenta - se o Amor.
Eu não conseguia mensurar a percepção daquela moça, de tudo que acontecia ao seu redor. A mãe a colocou, estrategicamente, num local para que ela pudesse enxergar o padre. Por algum motivo seria. E neste vai e vem – entende - não entende - se aproximou o momento da oração do Pai Nosso. O sorriso da mãe subia aos olhos - tomou entre as suas, a mão de seda da filha. No mesmo momento, a moça se virou revestida de alegria contagiante, buscando pelo vizinho da esquerda e lhe estendeu a mão delicadamente. Fiquei inebriada, sem ação. O contentamento trespassou minha alma e verteu- se em arrepios na pele. Não era frio, era emoção. Permaneci um tempo contemplando a cena. Minha oração ecoava em um novo olhar.
O silêncio da moça de cadeira de rodas era apenas ausência das palavras e nada mais. Sua alma acolhedora faiscava – lhe o olhar.
-- Ganhei o meu dia, querida. Você me ensinou coisas. Um novo coração pulsa aqui dentro. A Olynda que agora retorna à casa, não é mais a Olynda que entrou neste templo. Ela amou.
Poxa, não perguntei o nome daquela mãe.
Para mim é Maria, ou Fátima? Nomes fortes na resistência, na entrega, na parceria que não vê obstáculos na coragem de ser feliz. Mãos que vagueiam pelo cotidiano, construindo a história de quem é parte de suas entranhas.
Elas eram pássaros de uma só asa. No dar as mãos, eram plenitude: voavam juntas no infinito de um céu chamado amor.

Olynda Bassan Franco

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