11 de abr. de 2016

Orquídias e Amoras

                                    








            Orquídias e Amoras                      


         Na entrevista com a escritora  Noemi Jaffe, o entrevistador Edney Silvestre disse a ela que nunca   pronunciara o termo “ebífica" “ na televisão, citado em seu livro.         O que seria?
    Noemi explica que “ebífica” é a principal característica das orquídias. As raízes  agarram -se  a objetos,  dos mais variados;  não sendo dependentes da terra para se desenvolverem. Esta era a característica da sua personagem no Livro “Irizs, História do Comunismo”. Suas raízes não fincavam em terra firme.
   Num canto da escada cresce a amoreira.  Deslumbro- me  ao ver flores prenunciando amoras roxas, doces, naqueles galhos franzinos  que parecem se quebrar na insistência do  vento.  Imagina o êxtase de se catar fruta no pé, bem ali no meu quintal, no arbusto tão pequenino! Seria o manjar dos deuses.  Mas, meu encantamento pouco dura ao perceber as flores que ousaram implodir, já murchas;  sem a robustez  da seiva irrigada . O termo “ebífica’ retorna ao meu pensar, justificando meu desapontamento. A amoreira, não sendo planta aérea, “ebífica”, não é. Tem como necessidade a terra que a abrace, e nutrientes singulares, para  que nos agracie com seus frutos saborosos e medicinais.  Se ali estivesse a requintada  orquídia por certo  teríamos cores exuberantes   à  rústica escada. Não desprezaria as brechas de sobrevivência  que a vida lhe emprestaria.  
 .  O sucesso de um peixe não pode ser medido pela exigência dele subir em árvores, assim como o beija- flor não  atinge os altos cumes. Imprescindível é a busca do autoconhecimento, no qual me ancoro e zarpo ao mar desconhecido que é o amanhã, ou a um instante.  Que ponto de luz sou na constelação familiar, no Universo que me cerca? Do que se alimenta minha alma? Chego, porque sou um explorador de caminhos?   Humildemente olho para os meus pés e me busco no estilo das minhas raízes.  Existo no agarrar cascalhos, isopor, rolhas, ou no viço que me vem da terra fofa e adubada?   Ah, posso até ser um cacto, de pouca exigência.  Imprescindível me achar onde pareço me perder na falta de identidade.  Parasitas sugam a seiva alheia, desconhecendo a viscosidade de sua própria. “ O céu tem muitas moradas”; a vida inúmeros  cantos nos cantos desta terra. Sendo “ebífica” ou enraizada, nasci por um sentido, e por ele,  o melhor de mim, na vida.



                                                                          Olynda Bassan





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