12 de ago. de 2018

Papo de esquina

O melhor jeito de celebrar o dia de hoje...escrevendo.

Da série... É assim que eu vejo o mundo

Papo de esquina

Saindo de um velório, cabisbaixa, ando lentamente na lembrança de contritos rostos.
Poderia dizer: saio apressada pelos compromissos que me aguardam. Porém, depois de um tombo onde esgarcei a pele do joelho no asfalto áspero, tomei uma atitude. Desde o elevador vou cantando “ ando devagar porque já tive pressa”... Hoje presto atenção nos meus pés.
Na esquina, levanto meu olhar e ouço duas mulheres, que também estavam no velório, conversando com uma senhora sorridente, toda arrumada, com roupa passada, colares e brincos. Um charmoso chapéu a protege do Sol.
Não perdi a oportunidade de “enxergar” aquela mulher. A sua aparência me dizia que ali haveria aprendizado, além dos livros. E o nosso diálogo foi transcorrendo prazerosamente. Olho no olho.
-- Posso tirar uma foto da senhora? Sua imagem é incentivo para quem se desanimou da vida.
--Pode filha. Eu me arrumo porque tudo que a gente faz é bom. Se eu não gostar de mim a senhora também não ia parar e gostar de mim. Eu me arrumo para trabalhar, para ir nas festas. E me arrumo muito para ir na Igreja. Lá tem Jesus. É a minha festa com Ele.
Olha os sacos de reciclados, continuou falando... Minhas coisas são todas arrumadinhas. Eu cato uma garrafa e penso...ela é dinheiro. Não posso deixar jogada. Vai estragar o mundo. Lixo pra mim, não é lixo, não. É renda. Vou pintar as unhas. Hoje estou escondendo, está feia kk
( Abre um sorriso maroto. O olhar é de criança)
-- Sabe, Deus olha pra mim e fica feliz. Ah, como minha filha se gosta. Vou dar mais saúde pra ela. E eu sinto muito bem. Fico feliz. Precisamos deixar Deus feliz. Ele criou nós. Eu não reclamo de jeito nenhum. Eu só reclamo do vagabundo que não vê o trabalho como coisa boa.
--Qual é o seu nome?
-- Odília.
--E quantos anos tem?
Ela ri gostoso.
--Tenho 88 anos.
--Não sei não. Este registro deve estar errado.
-- Tá nada. Tá é certinho. Acabei de chegar da Bahia.
“Deus olha pra mim e fala...mas que pic tem essa minha filha”
-- D. Odília, foi um prazer conversar com a senhora. Me ensinou
como ser feliz no pouco. Vou escrever sobre o nosso encontro e imprimir. Quando a encontrar de novo, lhe entrego.
-- Ah, que alegria!!! Meu Deus!
--Vai filha, Deus a abençoe.
--Um abraço de despedida.
É assim eu que eu vejo o mundo - numa esquina qualquer.
Olynda Bassan

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