19 de set. de 2018

Um pingo pode ser uma crônica

Voltei.
Celebrando meus cinco anos de escrevinhadora, ofereço este texto aos queridos leitores que me seguem carinhosamente.
Refletindo cenas do cotidiano... Era 19 de setembro de 2013 – São Paulo.
“ E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo”. (Toquinho)
Era quinta-feira à noite. Participava de uma missa, ocupando um banco do meio da igreja para trás.
Dois bancos à frente via uma mãe com uma criança lindinha, aparentando uns dois aninhos, esperta que só ela, mais outra mulher que me parecia ser parente e duas criança maiores, 9, 10 anos,. Usavam tiaras, laços no cabelo – vaidosas. À minha esquerda, na mesma direção do grupo anterior, outra jovem mãe com uma filha loirinha de cabelos encaracolados, caprichosamente presos com um laço de fita, combinando com o vestido rosa. Linda!
O que teria de tão diferente nas duas cenas? Afinal o cenário era montado por mães e crianças – na missa.
Cena 1
A filha de uns 5 anos, a loirinha, trazia em suas mãos um tablete também rosa. De costas para o altar, sentada da maneira mais confortável possível, ou deitada, quando se cansava, absorta no seu mundinho, tendo como companhia os seus jogos. O dedinho deslizava sobre a tela que lhe iluminava o rosto. com rapidez. A mãe, em pé, olhava em direção ao altar. Uma vez ou outra se voltava para a filha. Afinal, estava quieta, não atrapalhava ninguém. Não precisava acalmar a inquietude da menina. Nem responder a tradicional pergunta: “já acabou?” “Falta muito?”. Nem sentiu a delícia da pele suave, em sua pele, os bracinhos repousados em sua cintura. Já perceberam como as crianças se aconchegam ao corpo dos pais, quando frequentam os eventos? Um grude! Em um certo momento a mãe se sentou e os cachinhos da cor dos trigais repousaram no colo materno, rapidamente. Voltava ao seu interesse maior, logo depois.
Enquanto, distraída do mundo, resolvia apenas os conflitos dos joguinhos e não nos seus, a criança lindinha de dois anos, saiu do colo da mãe, atravessou o corredor e foi se aproximando da sua vizinha. “ Criança chama criança” Olhava, sorria e nada de um olhar de volta. Não contente, entrou no vão do banco, aproximando-se ainda mais, ficando lado a lado, mas a sua presença não chamava mais atenção do que aquela tela retangular iluminada. “Que menininha séria, deve ter pensando com os seus lacinhos”. Olhou...olhou e desistiu. Voltou para o lugar de antes. Tinha mais o que fazer.
Enfim, o tempo passou, quase no final da celebração, a face rosada deixou de ser iluminada pela luz branca. A menina linda, linda se rendeu e descansou num colinho macio, com direito a cafuné.
Cena 2
Ocupavam dois bancos. As meninas maiores auxiliavam no cuidado com a pequena, pois esta, queria explorar o espaço imenso. Maior lhe parecia, no seu tamaninho. Enchiam a chuquinha de água, acompanhavam nas andanças da “pecorrucha”, uma vez ou outra conversavam, riam ao pé do ouvido, no sussurro. Estavam em uma igreja. Se passassem dos limites, a mãe olhava para trás e lhes pedia silêncio. Conflitos a serem resolvidos têm em qualquer lugar. De repente, ficavam todas em linha com as mães. Brotavam abraços, mãos roçando as costas com carinho, afagando os cabelos, ao mesmo tempo que rezavam.
A pequena, enfim, sentiu sono. Ora a mãe, ora a tia a embalavam. As primas ajeitavam o brinquedinho fofinho, para que se sentisse aconchegante em seu soninho. Recostada no ombro da mãe, adormeceu.
A família se interagia no próprio eixo de olhares e sorrisos.
Ah, acho que nem preciso dizer....
Mãos livres acolhem, sentem, tocam, descobrem, comunicam...
enxergam...
Não pensem que deixei de rezar, de louvar, agradecer, de pedir perdão. Nada disso. É que para o olhar de uma cronista – um pingo é uma crônica rs
Olynda Bassan

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