14 de nov. de 2015

O pensar de um detento






O pensar de um ex detento.


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Parti para São Paulo. Notei muitos jovens, homens novos, embarcando mediante apresentação de carta expedida por alguma instituição.
No início da viagem estavam silenciosos, mas a medida que o ônibus se aproximava mais de São Paulo a inquietude, a ansiedade se instalava. Riam, olhavam a estrada com sofreguidão. Pelas conversas entre eles descobri que eram ex detentos com o alvará definitivo, em mãos. Estavam presos há 10 anos, alguns menos.
Eu quase não conseguia administrar tanta euforia, vibração daquele ônibus. Ainda lutava no meu interior contra o receio e o preconceito. Atmosfera também do medo do inesperado. É preciso saber viver em liberdade. Eram 12, com suas sacolinhas com salgadinhos, coca, danone. Gentilmente nos ofereciam.
Prestava atenção em seus desejos e indagações. O que estava sentado ao meu lado dizia: "Quero chegar em casa e tomar um banho quente por uma hora. Banho gelado, nunca mais. Tá loco". Perdi 10 anos da minha vida. Chega! O outro falava em fazer currículo, trabalhar. E assim sonhavam. Quando o ônibus parou na rodoviária, eles há muito faziam fila, desde a escada. Neste momento, um deles, simpático, melhor vestido, olhou para os demais e disse: " Gente, agora é a hora da verdade " .Desejamos um feliz recomeço e cada um seguiu seu caminho. Uma mãe esperava pelo seu filho. Foi um encontro de lágrimas, não as mesmas da despedida de um dia, mas de acolhimento, de chegada. Abraço da Olynda

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