19 de set. de 2019

Viajando, viajei

Viajando...viajei
É de manhã.
Café à mesa.
Engole o pão.
No passo, o sonho pousa.
Desce a ladeira.
Sapato comendo a meia.
Paralelepípedos espreitam
a ponta do sapato, prevendo
tropeços.
Gália, âncora de lembranças.
Estação de Ferro, pequena, charmosa.
Cheia de gente, espiando ao longe.
Lá vem o trem epopeico.
Azul e branco.
Locomotiva acerejada.
Farol reluzente, som estridente
pedem passagem
Plac, plac, um barulho só.
O dragão de ferro
Expele fumaça.
Chuá, chuá...
aquece os trilhos, lambe gente .
Degrau alto.
Irmãos dão as mãos.
Upa, subi.
Olhos faíscam encantamento.
É o carro “Pulman”
Poltrona de couro vermelho.
Enorme. Giratória
Perninhas balançando, girante.
Eu tão pequenina.
--Bilhetes por favor.
--Temos carro restaurante.
“Café com pão, café com pão
Força, muita força maquinista”
Piui, piui, lá vai o trem.
O adeus da estação
“Passa boi, passa boiada”, vales e montes
Acelera maquinista
“Café com pão, café com pão.”
Sou eu quem passa?
Árvores correm?
Tenho pressa.
Bauru majestosa.
Eu tão pequenina.
“Café com pão, café com pão”
Chuuuuu...chuuuuuu.
Vai parando...parando...
Misto quente, disputa de lugar.
Aperto de gente - a chapa quente exala fome .
Objeto de desejo.
Casas Americanas.
Encontro das cidades.
Psiiuuuu tudo é silêncio
Trilhos secos
Era 1999...
Último suspiro de um trem.
--Senhores passageiros do Expresso de Prata.
--Queiram ocupar os seus lugares.
Espectros da saudade
rondam as cidades.
Vida: poema em movimento.
Novos ventos, outros encontros.
Cafeterias, barzinhos, salões
Bauru, novo porvir.
O amor que nos faz ir...ir...e ir
Olynda Bassan
Poema citado: “Trem de Ferro” de Manoel Bandeira

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