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Lá estava, sentada em uma das cadeiras
da rodoviária. Escolheu logo a de cor laranja,
símbolo de energia, a qual não lhe
faltava. Naquela manhã de sexta-feira assoviava um vento frio, mas ela não se movia.” Depois de tudo que
passei em minha vida, não é um ventinho, que me fará desistir. Posso agora, em
meu outono, realizar coisas que me eram
apenas sonho. Não pude fazer, antes, as faço agora . Vou esperar o horário e
“pegar” minha passagem de idoso, um direito adquirido e me enveredar por planícies e planaltos.”
Ali, uma
senhora de nome Maria Eulália. Não de cabelos brancos, pois, a natureza, ou a
genética fora generosa. Seu cabelo, cor
de mel não conhecera a ação das tintas, em seus fios curtos e bem cortados.
No
tempo da espera, no entra e sai de pessoas, olha, tem a percepção de cada
semblante. Um exercício que sempre tivera por hábito, em qualquer lugar que
estivesse. Gostava de ler a alma, tentar adivinhar as alegrias e dores de quem
passava. Por que tem este olhar tão melancólico? Será fruto de seus
desencantos, ou, de sua imaginação
fértil em fantasias, que tudo faz crescer e virar monstro? Nossa! Que pressa tem
aquele! Não falaram pra ele, que somos eternos? Esta mãe tão angustiada, tão jovem, irritada
com o seu filhinho. O quê, quem estará machucando
a sua alma? Que senhora bonita,
elegante! Quem foi rainha não perde a
majestade. Mas, também via um andarilho, maltratado pela vida, ou, por ele
próprio? Será que já se alimentou, hoje?
E a sua família, seu ninho, por que se desfez? Indagações sem respostas, no
papel de observadora. Indigente , ” sem palco, sem plateia”. Olha só, que corpo
escultural tem aquela moça. Ah! Também o
meu fora assim, recordava Maria Eulália. Vai longe a cinturinha de pilão, com o
cinto a enlaçar. Hoje meu corpo modificado, inevitavelmente
pelo tempo, pelas cicatrizes, mas com
energia de um outono com vigor”. Hoje, Maria Eulália escolhe a roupa,
com mais cuidado, no detalhe da cor, de um bom corte e caída, valorizando o que
tem de mais lindo, o que a faz ser uma
mulher , senão bonita, interessante . Até levara um livro para ler, passar o tempo, ainda faltava uma hora, não
podia perder sua vez, mas preferira ler
o mundo, ler o ânimo das pessoas refletido no olhar, no sorriso, na pele
translúcida, cabelos sedosos, ou, no contrário de tudo isto.
Filosofando o cotidiano, o celular toca!
Tem um sobressalto em seu devaneio!
“Oi prima
tudo bem? Quanto tempo” Era sua prima Luciana....cumprimentos...
Ela pensou... Meu Deus, Lú, o que teria acontecido?!!!! “Prima eu estou ligando porque encontrei um amigo de longa
data, o Paulo Duarte, lembra- se dele? Foi gerente do Banco Bamerindus em nossa cidade natal.” Não entendendo o
porquê da informação, puxa pela memória. Mais ou menos, do nome sim, da
fisionomia, não. ”Vocês até hospedaram a noiva dele, quando ela esteve em Mariápolis. Pois bem, ele me confessou que você, prima,
foi o grande amor de sua vida”. Maria Eulália, incrédula dizia...você tem
certeza de que sou eu? Pode ter se enganado. “É você, mesma. Eu lhe mostrei
fotos. Brilha seus olhos quando ele fala
de você. Não tem engano, nenhum”.
“Ele quer o seu telefone. Posso lhe dar?”
Ela
precavida, logo indaga... Ele é casado?
Luciana, já lhe dá a ficha completa. “ “É separado, aposentado, tem uma
fazenda de gado Nelore, no Pará. Nesta semana está de passagem por São Paulo. – Hei! prima, derretendo corações, hein?” Maria Eulália ria, na expectativa do inesperado. Lógico, dê-
lhe o número do celular. Não estou em casa. Elas riam...tudo fora há tanto tempo. Eu? Amor da vida dele? Como?
Nunca soube!
Não se passaram nem cinco minutos, ele
ligou..
“Amor da minha vida..”. ( sexagenária ouvindo
uma declaração de amor, nesta altura dos acontecimentos, é para mexer com as
águas, trazer à tona sentimentos silenciados. Não é, não?)
“Eu nunca a esqueci. A sua voz não mudou. Eu a reconheceria em
qualquer lugar.” Detalhe, Maria Eulália detestava sua voz ao telefone. Não
tinha nada a ver com ela.
Mas, Paulo, por que não me disse há 45 anos?
“Eu lhe
disse, e você me respondeu um alto e sonoro não.”
Por certo eu já estava namorando aquele que seria meu
marido” Não estava, não”. Ele sabia tudo de mim!
“Antes de lhe pedir em namoro, eu desisti do
meu noivado, para ser honesto comigo mesmo e com vocês. Mas, tristemente ouvi o
seu não. Neste meio tempo fui designado para gerenciar uma outra agência distante. Eu me casei, porém a levei em meu coração, em meus sonhos e
insônias. Você tinha que ter casado comigo. A minha vida, a minha fazenda teria sido
diferente, com a sua presença, com a sua vitalidade!
“Maria Eulália, estou em São Paulo. A Luciana me disse que você também virá para cá.
Venha me ver. Quero matar minhas saudades. Sentir você por perto. Trago em mim
a lembrança apenas de você. Nem do prazer da pele, o qual nem senti, só de você. Amo porque te amo. Guardo sua imagem desfilando pelo jardim em
frente à Igreja Matriz. Antes de
regressar ao Pará, deixa-me realizar o
grande sonho de você. Olhar no seu rosto lindo, o sorriso largo, seus
cabelos macios.” Está fantasiando? Por quê me
vê assim? “Nada de fantasia! Eu a
vejo nas fotos, eu a enxergo com o olhar
do Romeu que não se esqueceu da sua Julieta”. ( prendo a respiração Uau!!!!) Ah... o face Book , parece que tem foto Shop interno. Deixa todo mundo bonito rssrs. “Eu a esperarei com toda a ansiedade acrescida em mais de 40 anos. Você tinha que ter casado comigo”, ele
insistia.
“Tcháu , amor da minha vida. Até semana que vem”. O celular silencia, fica a “zoeira”
na cabeça.
Foram dias encabulados na vida de Maria Eulália. Uma mistura de incredulidade, do
sabor da ansiedade, da alegria em ser cortejada. Quem não quer ser amada? Como seria ele? Ela não se lembrava de seu
rosto, sua estatura. O encontro
aconteceria envolvido por sentimentos diferenciados. Ela imbuída de um
sentimento alegre de curiosidade, de encontro com um amigo distante. Para ele, o sonho reavivado, encontro com a mulher que amou e desejou, como
nunca. Uma centelha de vida, com chances
de se reacender pelo vento do amor, que tudo incendeia e reluz.. .
Elas combinaram de se encontrarem na saída
do Metrô Santa Cruz. “Lú que aventura a minha” Enfim chegaram à casa da filha
do Paulo Duarte, na qual ele se hospedara. “Uma porta o separava de mim e não mais 45 anos.” Entrei na sala com
o meu olhar, procurando o dele. Olhos azuis, meio sonhadores, parecendo –me com certo medo, talvez
inseguros? “Olhei para aquele homem bonito, bem vestido, sem a possibilidade de
se soerguer sozinho daquele sofá. Um sentimento de compaixão envolveu meu coração, ao vê-lo levantar
- se, amparado pela cuidadora e pela Luciana. Eu não tive condições de
ajudá-lo. Achei que ele não se sentiria
bem. Ao caminhar vagarosamente, com
dificuldade até à mesa, onde tomaríamos
um café senti um carinho enorme pelo
Paulo. Um AVC limitara seus movimentos.
Por que teria acontecido? Uma mente brilhante, empreendedora, pessoa
interessantíssima! Daquelas que se passa
horas, ouvindo seus causos, experiências de vida. Nada que o impedisse de
continuar, cuidando de sua fazenda, negócios e a viajar”. Maria Eulália, à medida que a conversa se
aprofundava, o via como uma
pessoa segura, arrojada, que busca o sentido da vida além das aparências. Tomara
a decisão de conquistá-la, apesar de... Corajoso
, valente ! Sua doença não o aprisionara em solidão. Tem vida, e não se esconde dela.
Tem sonhos, ama, no desejo de ser amado.
Não merece pena, este homem, e sim, admiração, respeito !!!!
Paulo,
acariciando seu braço, extensão do carinho do seu olhar, na frente da sua prima, sorrindo, com olhinhos de criança
arteira, lhe dizia..”.quer namorar comigo? Você terá uma vida maravilhosa na fazenda”,
prometia ele, ou sonhava alto? Ele é
criador de gado Nelore de Elite, aliás, selecionador da raça. “Ah! se
você tivesse casado comigo...” Ele nem sabia que este era um ambiente o qual
ela amava e gostaria de ter vivido. Assistia pela televisão o glamour dos
Leilões, das exposições. O encontro fora cercado de lembranças. Relatou
detalhes dos móveis da casa de Maria Eulália, onde eles se ajeitavam para conversar ; como ela reagia ao menor toque de suas mãos.
Como era arisca ! Inacreditável! Ele se lembrava até do nome da manicure da amada, e o seu horário,
no sábado à tarde. Isto porque, ele ia no mesmo
horário, só para ver Maria Eulália. Parece coisa de novelas.
A emoção do Paulo ao se despedir era visível
em seus lábios trêmulos, olhos brilhantes, umedecidos pela lágrima prestes a
rolar daqueles olhos azuis, pequenos,
mas que faiscavam emoção, que implorava pelo
retorno da mulher que o inebriara, que preencheria o vazio de seus dias,
se ela lhe dissesse o sim de 45 anos atrás.
À convite do Paulo ficara acertado um encontro para o mês de setembro. Estavam
no mês de junho. Ele a levaria para
almoçar em um bom restaurante de São Paulo. E a Luciana, seu cupido, também, como
convidada especial, claro.” Maria Eulália, amor da minha vida, não lhe direi o nome do
restaurante. Surpresa!!!! Confia no meu bom gosto?” Ela sorriu com o jeitinho moleque dele. Vem no
pacote mais um convite... o de conhecer
a Fazenda e por lá ficar uns 15 dias.
Paulo, surpreendendo – a mais uma vez, liga em uma manhã de domingo,
todo animado. Conversaram longamente. Maria Eulália era uma mulher
interessante, culta, com vivências de viagens, de livros, da vida. Nascera em lar de leitores, artistas. Nos anos 60, 70,
quando, as moças de cidade pequena, em sua maioria, não saiam para estudar
longe de casa, poucas cursavam Faculdade, seus pais já viajavam pela Europa à procura de
outras culturas. O papo entre eles fluía
com gosto, porque, sendo o Paulo, uma
pessoa que tudo vivia intensamente, nele encontrava eco, suas palavras. Ele conta que estava escrevendo um livro,
ainda que fosse fazendeiro. Havia
afinidade no ar. Ele afirmava com todas
as letras. “Eu a perdi, um dia. Pela segunda vez, não, Maria Eulália. Está
comprometida comigo agora”. Interessante! Ele não lhe fazia perguntas, apenas
afirmava. Provavelmente não queria correr o risco de ouvir outro não.
Passada a euforia do encontro inesperado, o
qual lembra o filme “Cartas para Julieta” vem a reflexão contrita, de quem terá
uma decisão a tomar, caso queira viver esta grande aventura. Recomeçar
a vida, amar de novo, ter uma pessoa ao seu lado, tornar-se fazendeira, muito longe dos filhos, dos netos. Será? Estava acostumada com este vazio, com a
liberdade de ser só, na sua zona de conforto.
Porém, Maria Eulália tem um segredo o qual
ele desconhece. E por este segredo, ela entende o
sofrimento de Paulo ao não ser correspondido em seu amor. Pois é...calçar o sapato do outro nos proporciona o
entendimento. A vida nos prepara cada uma... Sente na pele, o que ele padecera em sua desilusão. Maria Eulália alimenta em seu coração um
amor platônico, envolvente, ainda que virtual. Uma ilusão perigosa, arrebatadora, que a faz
perder alguns quilos, com noites mal dormidas, regadas à fantasias, apenas por
ela experimentadas. Este, que se tornaria seu amigo virtual, sendo poeta e escritor, em São Paulo,
a Maria Eulália, o conheceu em uma noite de autógrafo, no glamour de espumantes
e canapés. Com mãos trêmulas, úmidas
recebera o livro autografado, não entendendo, ela mesma, sua reação. O roçar de suas mãos ligeiramente ao lhe
entregar o livro, a fez arrepiar, a secar a boca. Maria Eulália o via pela primeira vez. Como
pode acontecer uma explosão de sentimentos, antes mesmo de um olhar ?
Nome autografado na capa de rosto: Golbery de Andrade e Silva . Filho de militar,
lógico. Não trazia em suas veias o gosto pelas armas, mas pela poesia. Ele, extasiado pela aceitação de seu livro,
aos cumprimentos, abraços no reencontro de amigos queridos, nem a notara, pelos menos como ela gostaria que fosse. Maria Eulália fora a convite de uma amiga,
simplesmente. Final da recepção, cada um
para o seu canto. Com a famosa frase : “Nos veremos no face Book”, quase
como um hábito moderno.
Contar para o Paulo, valeria a pena? Dizer
que o seu coração está ocupado por uma paixão, de um só? Fazê-lo passar pela segunda dor da perda de um
grande amor, reencontrado, por algo que
talvez nem exista?
O “amigo virtual”, sim, pela distância
que os separava, em quilômetros e em sentimentos, nunca a enxergara como enamorada, e muito menos como namorada,
como mulher. Ele, Golbery, razão do pulsar do coração de Maria Eulália vinha de perdas e desilusões amorosas. É sofrido, espetado por espinhos de amores
mal resolvidos, em furos doloridos. Tem pavor a um novo relacionamento. Não consegue desvencilhar-se do passado. Vive em seus pedaços de saudades.
Coração saudoso, espinhado, trancado.
Fez um “ninho melancólico”, só seu, e não cogita partilhá-lo com a chance
de amar.. Se, ao menos uma
fresta abrisse em sua alma amante romântica,
teria a seiva do amor , mas ele a impede de entrar por medo, por preguiça de enfrentar o novo, em
dar passos além dele mesmo, ou de perder sua liberdade conquistada à duras
penas. Não digo que não seja feliz, que não tenha encantamento pela vida,
apenas desaprendeu de ser feliz a dois. Teria que encontrar uma águia mulher,
para fazê- lo voar, ainda que em
voos à meia altura. Passa os dias entre
Literatura, viagens, noites de autógrafo, palestras. Assim preenche sua solidão e nela parece se perder. Sublima! Sendo
poeta e escritor, canta em prosa e versos a sua dor, e amores. Estaria ela apaixonada pelos seus versos? Não!
Ela sabe que “são versos sem dono, sem rosto” . No poema, o poeta deseja
que cada mulher lhe dê o seu rosto, sinta-se uma musa amada , querida, ao recitá-lo. Um cinquentão de um metro e oitenta e cinco,
ornamentado por um par de olhos verdes,
a deixaria sonhadora, como se uma adolescente fosse? Ou é a leitura que Maria Eulália fazia da alma de Golbery , que a lê preciosa, sensível,
boa, com uma capacidade enorme de amar e ser feliz, que a faz desejar? Na admiração que sente, acha que uma alma tão inebriante, tão envolvente, seria
um desperdício viver só, sem que outros
partilhassem de sua ternura, de sua companhia, até do seu humor. O sentimento de Maria Eulália é tão dativo que ela o quer livre, de bem com a vida. Se o for entre os seus livros, que assim seja!
O autor tem a companhia de suas palavras, se liquidifica com as lágrimas,
conversa com os seus livros, queridos, amigos. Mas existe vida, prazeres além dos livros, além da solidão de um
escritor. Escolhas que possam conviver com a Literatura, numa hierarquia
amistosa. São tantas... Se indagassem à
Maria Eulália dos seus sentimentos, talvez não soubesse definir. O que ela
sabia é que eles se faziam bem. Ela
gostava disso. Dois amigos que choravam na mesma lágrima, sorriam no mesmo sorriso, se esperavam no
mesmo silêncio. Em qualquer situação que a vida se apresentava, Maria Eulália
colocava o coração em suas mãos, e por
isso simplesmente amava...
No
início, só um clic, dizendo sim à solicitação. Depois, de uma caminhada pelo face Book , sempre ele, tornaram – se grandes amigos, afinados. Ele sim, amigo. Ela teria que escrever amigo,
com aspas “amigo” . Por ironia do
destino, o último livro de Golbery versava justamente sobre o contexto dos amores
virtuais, seus ganhos e suas perdas. Finais felizes, como em contos de fadas e
finais com agruras que arranham a alma.
O tema era um alerta aos danos emocionais, físicos, psicológicos, frutos
desta ilusão unilateral. Tudo fica tão
fácil pela tela azul, suave do computador. Ao desligarmos, não conhecemos mais
nada do outro. Com quem fala, que
lugares frequenta. O amigo escritor nem
imaginava que a sua amiga, vestida de sua máscara, seria um laboratório vivo,
como argumentação de suas histórias e fatos virtuais. E nunca saberia, pois era escolha sua, expectativas que não colocaria nas costas de
Golbery, pois ele não daria conta de
suportá-las e muito menos atendê-las. Esta é a maturidade que o Outono trazia à
Maria Eulália. Tinha consciência que não
teria a colheita deste relacionamento, a não ser a linda amizade. Bastava!!!
Pretendia
ser transparente consigo mesma, e com o
Paulo, ainda que não houvesse continuidade, de nada. Teria a oportunidade de
conhecer uma pessoa, no mínimo interessante. E vinha seu dilema... Contaria a
verdade sobre o envolvimento do seu
coração com Golbery? Mas que verdade? Se, mentia a si mesma, ao construir um castelo
com as areias da sua fantasia, que voltariam ao mar no menor sopro da
realidade? O mundo ilusório que faz sonhar, viver, sorrir, não se sustenta nas arestas de um lado só. Castelos edificados com
cartas de baralho sobrepostas, de arquitetura frágil, sem amarras e
vergalhões. Maria Eulália com seu “olhar
de idosa menina” vibra com a paixão, mas
no íntimo pressente que não tardará o dia em que terá que dizer adeus às aspas que veste
o nome do” amigo” e na encruzilhada de seguir adiante, preservar a grande e linda amizade confidente,
construída a dois, nas intermináveis
conversas. Esta sim, de mão dupla, cúmplice, solta, límpida, fiel e escudeira. Era
um encontro de almas. Já se conheciam,
mesmo antes da noite de autógrafo, o que explicaria a emoção que explodira no
primeiro encontro. Para Maria Eulália isto era o essencial. No espiral da vida, é preciso reconhecer o tempo certo de fechar círculos, ciclos, fases, para que outros
se abram à novas possibilidades.
Golbery, às vezes se ausentava. Em tantos momentos Maria Eulália o esperara em seus
silêncios, como ondas de um mar revolto
que iam e vinham no movimento de sua alma à procura de calma, para que o
espírito de paz pudesse preenchê - lo novamente. Sempre, o amigo voltava como praia vazia, de pés descalços, caminhando
pela areia morna, em busca de afago e
abraço; da leveza de Maria Eulália, ainda que virtual. Prazeroso era, ter um rosto bom, amigo, para se lembrar em suas
saudades. Novos conceitos de amizade
surgem com o mundo virtual. Nisso Maria Eulália pensava.
Se eu
conheço bem a Maria Eulália, ela teria que remover muito mais aspas no seu modo de encarar a vida, rompendo algemas,
assim como outras mulheres de sua geração. Muito mais custosas que as aspas na
palavra “ amigo”. Aspas cerceadas por crenças, costumes, hábitos e medos e isolamento. Buscar o
desapego, deslumbrar-se com a libertação
que nos torna leves e soltas.
É... não contaria
nada. Uma amizade tão intensa, não deixaria de ser
vivida. Caberia em outros
relacionamentos. Setembro, não custa a
chegar... Terá um encontro com o Paulo. Maria Eulália, com sua Fé, coloca seu futuro,
na vontade de Deus e vai tecendo seu caminho, com as decisões
que lhe cabe.
Maria Eulália vê em seu celular uma chamada perdida do Paulo.
Retorna! Sempre achara uma falta de “finesse” não dar o devido
retorno à ligações recebidas.
Uma mulher simpática, atende. Ele estaria no banho. Maria Eulália apresenta -se como amiga. Minha prima me disse que ele teria uma
cuidadora, coisas assim... sem maiores
explicações. Logicamente não poderia viver sozinho, mediante suas limitações
físicas.
Por favor, poderia lhe dar o recado? Diz que
eu liguei.
Olynda Aparecida Bassan Franco
Olynda Aparecida Bassan Franco
Li no Recanto. Ficou lindo, cheio de desejos de viver. Abraço.
ResponderExcluirStan!!!!! Que surpresa!!!!! Você por aqui...Obrigada. Sim. Entre realidade e mais ficção, uma filosofia de vida....VIVER!!!! Abraço
ExcluirConto primeiro "Amor da minha vida": Este conto é a grande prova do que uma narradora competente pode fazer, pois tem, em todos os sentidos, um grande potencial narrativo para nos agradar. Primeiro, possui um substrato de imaginação e criatividade extremamente interessante, atrai a atenção do leitor! Segundo, sua narrativa foge do introspectivismo para uma realidade viva, presente, concreta, como uma tela em que se fixa o ápice de uma situação humana, e de tal modo, faz com que o realismo se assemelhe com a vida. Outro aspecto interessante de se notar, é que nesta narrativa todas as palavras convergem para um mesmo alvo, fazendo com que o dado imaginativo se sobreponha ao dado observado, o que confere à obra um caráter estético que não se perde no vago. Terceiro, o conto possui uma linguagem objetiva, agradável e de imediata compreensão para nos leitores; despe-se de abstrações e da preocupação com o rebuscamento linguístico. Dentre outras coisas, o diálogo, no conto, tornou-se o mais importante, característica de uma boa narrativa. Por vez, os conflitos, evidenciaram-se nas palavras ditas, por intermédio dos signos de sentimentos, de ideias e/ou emoções, imprimindo, assim, tudo o que o homem sente ou pensa. Por fim, no que concerne à trama, bem como, ao foco narrativo, a contista foi bem linear, e sem muitos rodeios, fez do conto um relógio, de modo que, nos leitores vimos os fatos se sucederem numa continuidade semelhante à vida real. Este foi o grande ápice do conto e da contista, que de modo singular e inteligente, nos empolgou e nos surpreendeu até o final de sua narrativa! Parabéns amiga, siga adiante!!!
ResponderExcluirOnilda, quanto tempo dedicado ao "Conto Primeiro" É muito zelo e carinho. Mil abraços da sempre amiga Olynda
ExcluirLindo, lindo, mulher águia !!!! Parabéns !!!!
ResponderExcluirSuzana, que carinho e surpresa te encontrar no meu Blog. Muito muito obrigada tentando sair do quintal..rsrs Abraço da Olynda
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