18 de out. de 2014

Conto primeiro "Amor da minha vida"

              

      

                                                                                        fonte google
                                                             



      Lá estava, sentada em uma das cadeiras da  rodoviária. Escolheu logo a de cor laranja,  símbolo de energia, a qual não lhe faltava. Naquela manhã de sexta-feira assoviava  um vento frio,  mas ela não se movia.” Depois de tudo que passei em minha vida, não é um ventinho, que me fará desistir. Posso agora, em meu outono,  realizar coisas que me eram apenas sonho. Não pude fazer, antes, as faço agora . Vou esperar o horário e “pegar” minha passagem de idoso, um direito adquirido e  me enveredar por  planícies e planaltos.”     
Ali, uma senhora de nome Maria Eulália. Não de cabelos brancos, pois, a natureza, ou a genética fora generosa.  Seu cabelo, cor de mel não conhecera a ação das tintas, em seus  fios  curtos e bem cortados.
    No tempo da espera, no entra e sai de pessoas, olha, tem a percepção de cada semblante. Um exercício que sempre tivera por hábito, em qualquer lugar que estivesse. Gostava de ler a alma, tentar adivinhar as alegrias e dores de quem passava. Por que tem este olhar tão melancólico? Será fruto de seus desencantos,  ou, de sua imaginação fértil em fantasias, que tudo faz crescer e virar monstro? Nossa! Que pressa tem aquele! Não falaram pra ele, que somos eternos?  Esta mãe tão angustiada, tão jovem, irritada com o seu filhinho. O quê, quem  estará machucando a sua alma?  Que senhora bonita, elegante!  Quem foi rainha não perde a majestade. Mas, também via um andarilho, maltratado pela vida, ou, por ele próprio?  Será que já se alimentou, hoje? E a sua família, seu ninho, por que se desfez? Indagações sem respostas, no papel de observadora.  Indigente  , ” sem palco, sem plateia”. Olha só, que corpo escultural tem aquela moça.  Ah! Também o meu fora assim, recordava Maria Eulália. Vai longe a cinturinha de pilão, com o cinto a enlaçar.   Hoje meu corpo modificado, inevitavelmente pelo tempo, pelas cicatrizes, mas com  energia de um outono com vigor”. Hoje, Maria Eulália escolhe a roupa, com mais cuidado, no detalhe da cor, de um bom corte e caída, valorizando o que tem de mais lindo, o que a faz   ser uma mulher , senão bonita, interessante . Até levara um livro para ler,  passar o tempo, ainda faltava uma hora, não podia perder sua vez, mas preferira  ler o mundo, ler o ânimo das pessoas refletido no olhar, no sorriso, na pele translúcida, cabelos sedosos, ou, no contrário de tudo isto.
    Filosofando o cotidiano, o celular toca! Tem um sobressalto em seu devaneio!
“Oi prima tudo bem?  Quanto tempo” Era sua prima Luciana....cumprimentos... Ela pensou... Meu Deus, Lú, o que teria acontecido?!!!!  “Prima eu estou  ligando porque encontrei um amigo de longa data, o Paulo Duarte, lembra- se dele? Foi gerente do  Banco Bamerindus  em nossa cidade natal.” Não entendendo o porquê da informação, puxa pela memória. Mais ou menos, do nome sim, da fisionomia, não. ”Vocês até hospedaram a noiva dele, quando ela  esteve em Mariápolis.  Pois bem, ele me confessou que você, prima, foi o grande amor de sua vida”. Maria Eulália, incrédula dizia...você tem certeza de que sou eu? Pode ter se enganado. “É você, mesma. Eu lhe mostrei fotos.  Brilha seus olhos quando ele fala de você. Não tem engano, nenhum”.
    “Ele quer o seu telefone. Posso lhe dar?”
    Ela precavida, logo indaga... Ele é casado?  Luciana, já lhe dá a ficha completa. “ “É separado, aposentado, tem uma fazenda de gado Nelore, no Pará. Nesta semana está de passagem por São Paulo.  – Hei!  prima, derretendo corações, hein?”  Maria Eulália  ria, na expectativa do inesperado. Lógico, dê- lhe o número do celular. Não estou em casa.   Elas riam...tudo fora  há tanto tempo. Eu? Amor da vida dele? Como? Nunca soube!
    Não se passaram nem cinco minutos, ele ligou..
  “Amor da minha vida..”. ( sexagenária ouvindo uma declaração de amor, nesta altura dos acontecimentos, é para mexer com as águas, trazer à tona sentimentos silenciados. Não é, não?)
   “Eu nunca a esqueci.  A sua voz não mudou. Eu a reconheceria em qualquer lugar.” Detalhe, Maria Eulália detestava sua voz ao telefone. Não tinha nada a ver com ela.
   Mas, Paulo, por que não me disse  há 45 anos?
“Eu lhe disse, e você me respondeu um alto e sonoro não.”
   Por certo  eu já estava namorando aquele que seria meu marido” Não estava, não”. Ele sabia tudo de mim!
   “Antes de lhe pedir em namoro, eu desisti do meu noivado, para ser honesto comigo mesmo e com vocês. Mas, tristemente ouvi o seu não. Neste meio tempo fui designado para gerenciar  uma  outra agência distante. Eu me casei, porém  a levei em meu coração, em meus sonhos e insônias. Você tinha que ter casado comigo.  A minha vida, a minha fazenda teria sido diferente, com a sua presença, com a sua vitalidade!
    “Maria Eulália, estou em São Paulo.  A Luciana me disse que você também virá para cá. Venha me ver. Quero matar minhas saudades. Sentir você por perto. Trago em mim a lembrança apenas de você. Nem do prazer da pele, o qual nem senti, só de você.   Amo porque te  amo.  Guardo sua imagem desfilando pelo jardim em frente à Igreja  Matriz. Antes de regressar ao Pará, deixa-me  realizar o grande sonho  de você.  Olhar  no seu rosto lindo, o sorriso largo, seus cabelos macios.” Está fantasiando?  Por  quê  me vê assim? “Nada de fantasia!  Eu a vejo  nas fotos, eu a enxergo com o olhar do Romeu que não se esqueceu da sua Julieta”. ( prendo a respiração  Uau!!!!)  Ah... o face Book , parece que tem foto Shop  interno. Deixa todo mundo bonito rssrs.  “Eu a esperarei  com toda a ansiedade acrescida em  mais de  40 anos.  Você tinha que ter casado comigo”, ele insistia.
   “Tcháu , amor da minha vida. Até  semana que vem”. O celular silencia, fica a “zoeira”  na cabeça.
   Foram dias encabulados  na vida de Maria  Eulália. Uma mistura de incredulidade, do sabor da ansiedade, da alegria em ser cortejada. Quem não quer ser amada?  Como seria ele? Ela não se lembrava de seu rosto, sua estatura.  O encontro aconteceria envolvido por sentimentos diferenciados. Ela imbuída de um sentimento alegre de curiosidade, de encontro com um amigo distante.  Para ele, o sonho reavivado,  encontro com a mulher que amou e desejou, como nunca.  Uma centelha de vida, com chances de se reacender pelo vento do amor, que tudo incendeia e reluz.. .
   Elas combinaram de se encontrarem na saída do Metrô Santa Cruz. “Lú que aventura a minha” Enfim chegaram à casa da filha do Paulo Duarte, na qual ele se hospedara.  “Uma porta o separava  de mim e não mais 45 anos.” Entrei na sala com o meu olhar, procurando  o dele.  Olhos  azuis,   meio sonhadores,  parecendo –me com certo medo, talvez inseguros? “Olhei para aquele homem bonito, bem vestido, sem a possibilidade de se soerguer sozinho daquele sofá. Um sentimento de  compaixão envolveu meu coração, ao vê-lo levantar - se,  amparado pela cuidadora  e pela Luciana. Eu não tive condições de ajudá-lo. Achei que ele  não se sentiria bem. Ao  caminhar vagarosamente, com dificuldade  até à mesa, onde tomaríamos um café   senti um carinho enorme pelo Paulo.  Um AVC limitara seus movimentos. Por que teria acontecido? Uma mente brilhante, empreendedora, pessoa interessantíssima! Daquelas que se  passa horas, ouvindo seus causos, experiências de vida. Nada que o impedisse de continuar, cuidando de sua fazenda, negócios e a viajar”.  Maria Eulália, à medida que a conversa se aprofundava,  o via como   uma pessoa segura, arrojada, que busca o sentido da vida além das aparências. Tomara a decisão de conquistá-la, apesar de...  Corajoso , valente ! Sua doença não o aprisionara  em solidão. Tem vida, e não se esconde dela. Tem sonhos,  ama, no desejo de ser amado. Não merece pena, este homem, e sim, admiração, respeito !!!!
     Paulo, acariciando seu braço, extensão do carinho do seu olhar, na frente da sua  prima, sorrindo, com olhinhos de criança arteira, lhe dizia..”.quer namorar comigo?  Você terá uma vida maravilhosa na fazenda”, prometia ele, ou sonhava alto?  Ele é criador de gado Nelore de Elite, aliás, selecionador da raça.  “Ah!  se você tivesse casado comigo...” Ele nem sabia que este era um ambiente o qual ela amava e gostaria de ter vivido. Assistia pela televisão o glamour dos Leilões, das exposições. O encontro fora cercado de lembranças. Relatou detalhes dos móveis da casa de Maria Eulália, onde eles se ajeitavam para  conversar ;  como ela reagia ao menor toque de suas mãos. Como era arisca ! Inacreditável! Ele se lembrava até  do nome da manicure da amada, e o seu horário, no sábado à tarde. Isto porque, ele  ia  no mesmo horário,  só para ver Maria Eulália.  Parece coisa  de novelas.
   A emoção do Paulo ao se despedir era visível em seus lábios trêmulos, olhos brilhantes, umedecidos pela lágrima prestes a rolar daqueles  olhos azuis, pequenos, mas que faiscavam emoção, que implorava pelo  retorno da mulher que o inebriara, que preencheria o vazio de seus dias, se ela lhe dissesse o sim de 45 anos atrás.  À convite do Paulo ficara acertado um encontro para o mês de setembro. Estavam no mês de junho.  Ele a levaria para almoçar em um bom restaurante de São Paulo.  E a Luciana, seu cupido, também, como convidada especial, claro.” Maria Eulália,  amor da minha vida, não lhe direi o nome do restaurante. Surpresa!!!! Confia no meu bom gosto?”  Ela sorriu com o jeitinho moleque dele. Vem no pacote mais um convite... o  de conhecer a Fazenda e por lá ficar uns 15 dias.
    Paulo, surpreendendo – a  mais uma vez, liga em uma manhã de domingo, todo animado. Conversaram longamente. Maria Eulália era uma mulher interessante, culta, com vivências de viagens, de livros, da vida.  Nascera  em lar de leitores, artistas. Nos anos 60, 70, quando, as moças de cidade pequena, em sua maioria, não saiam para estudar longe de casa, poucas cursavam Faculdade,  seus pais já viajavam pela Europa à procura de outras culturas.  O papo entre eles fluía com gosto, porque, sendo o Paulo,  uma pessoa que tudo vivia intensamente, nele encontrava eco, suas palavras.  Ele conta que estava escrevendo um livro, ainda que fosse fazendeiro.  Havia afinidade no ar.  Ele afirmava com todas as letras.  “Eu a perdi, um dia.  Pela  segunda vez, não, Maria Eulália. Está comprometida comigo agora”. Interessante! Ele não lhe fazia perguntas, apenas afirmava. Provavelmente não queria correr o risco  de ouvir outro não.
    Passada a euforia do encontro inesperado, o qual lembra o filme “Cartas para Julieta” vem a reflexão contrita, de quem terá uma decisão a tomar, caso queira viver esta grande aventura.   Recomeçar a vida, amar de novo, ter uma pessoa ao seu lado, tornar-se fazendeira,  muito longe dos filhos, dos netos.  Será? Estava acostumada com este vazio, com a liberdade de ser só, na sua zona de conforto.
     Porém, Maria Eulália tem um segredo o qual  ele  desconhece. E por este segredo, ela entende o sofrimento de Paulo ao não ser correspondido  em seu amor. Pois é...calçar  o sapato do outro nos proporciona o entendimento. A vida nos prepara cada uma... Sente  na pele, o que ele padecera em sua desilusão.       Maria Eulália alimenta em seu coração um amor platônico, envolvente, ainda que virtual.  Uma ilusão perigosa, arrebatadora, que a faz perder alguns quilos, com noites mal dormidas, regadas à fantasias,  apenas  por ela experimentadas. Este, que se tornaria seu amigo  virtual, sendo poeta e escritor, em São Paulo, a Maria Eulália, o conheceu em uma noite de autógrafo, no glamour de espumantes e canapés.  Com mãos trêmulas, úmidas recebera o livro autografado, não entendendo, ela mesma, sua reação.  O roçar de suas mãos ligeiramente ao lhe entregar o livro, a fez arrepiar, a secar a boca.  Maria Eulália o via pela primeira vez. Como pode acontecer uma explosão de sentimentos, antes  mesmo de um olhar ?
 Nome autografado na capa de rosto:  Golbery de Andrade e Silva . Filho de militar, lógico. Não trazia em suas veias o gosto pelas armas, mas  pela poesia.  Ele, extasiado pela aceitação de seu livro, aos cumprimentos, abraços no reencontro de amigos queridos, nem a notara,  pelos menos como ela gostaria que fosse.  Maria Eulália fora a convite de uma amiga, simplesmente.  Final da recepção, cada um para o seu canto.  Com a famosa  frase :  “Nos veremos no face Book”,  quase  como um  hábito moderno.
    Contar para o Paulo, valeria a pena? Dizer que o seu coração está ocupado por uma paixão, de um só?  Fazê-lo passar pela segunda dor da perda de um grande amor, reencontrado,  por algo que talvez nem exista?
      O “amigo virtual”, sim, pela distância que os separava, em quilômetros e em sentimentos,  nunca a enxergara  como enamorada, e muito menos como namorada, como mulher.  Ele,  Golbery, razão do pulsar do  coração de Maria Eulália  vinha de perdas e desilusões amorosas.  É sofrido, espetado por espinhos de amores mal resolvidos, em furos doloridos. Tem pavor a um novo relacionamento.  Não consegue desvencilhar-se  do passado. Vive em seus pedaços de saudades. Coração  saudoso, espinhado, trancado. Fez um “ninho melancólico”, só seu, e não cogita partilhá-lo  com a chance  de amar..  Se, ao menos uma fresta  abrisse em sua alma amante romântica, teria a seiva do amor , mas ele a impede de entrar  por medo, por preguiça de enfrentar o novo, em dar passos além dele mesmo, ou de perder sua liberdade conquistada à duras penas. Não digo que não seja feliz, que não tenha encantamento pela vida, apenas desaprendeu de ser feliz a dois. Teria que encontrar uma águia mulher, para  fazê- lo voar, ainda que em voos  à meia altura. Passa os dias entre Literatura, viagens, noites de autógrafo, palestras. Assim preenche sua  solidão e nela parece se perder. Sublima!   Sendo poeta e escritor, canta em prosa e versos a sua dor, e amores.  Estaria ela apaixonada pelos seus versos?   Não!  Ela sabe que “são versos sem dono, sem rosto” . No poema, o poeta deseja que cada mulher lhe dê o seu rosto, sinta-se uma musa  amada , querida, ao recitá-lo.  Um cinquentão de um metro e oitenta e cinco, ornamentado  por um par de olhos verdes, a deixaria sonhadora, como se uma adolescente fosse?  Ou é a leitura que Maria Eulália fazia da  alma de Golbery , que a lê preciosa, sensível, boa, com uma capacidade enorme de amar e ser feliz, que a faz desejar?  Na admiração que sente, acha que  uma alma tão inebriante, tão envolvente, seria um desperdício viver só,  sem que outros partilhassem de sua ternura, de sua companhia, até do seu humor.  O sentimento de Maria Eulália  é tão dativo que ela o quer livre,  de bem com a vida.  Se o for entre os seus livros, que assim seja! O autor tem a companhia de suas palavras, se liquidifica com as lágrimas, conversa com os seus livros, queridos, amigos.  Mas existe vida, prazeres  além dos livros, além da solidão de um escritor. Escolhas que possam conviver com a Literatura, numa hierarquia amistosa.  São tantas... Se indagassem à Maria Eulália dos seus sentimentos, talvez não soubesse definir. O que ela sabia é que eles se faziam  bem. Ela gostava disso. Dois amigos que choravam na mesma lágrima,  sorriam no mesmo sorriso, se esperavam no mesmo silêncio. Em qualquer situação que a vida se apresentava, Maria Eulália colocava o coração em suas mãos,  e por isso simplesmente amava...
    No início, só um clic, dizendo sim à solicitação.  Depois, de  uma caminhada pelo face Book ,  sempre ele, tornaram – se  grandes amigos, afinados.  Ele sim, amigo. Ela teria que escrever amigo, com aspas “amigo” .  Por ironia do destino, o último  livro de Golbery  versava justamente sobre o contexto dos amores virtuais, seus ganhos e suas perdas.   Finais felizes, como em contos de fadas e finais com agruras que arranham a alma.  O tema era um alerta aos danos emocionais, físicos, psicológicos, frutos  desta ilusão unilateral. Tudo fica tão fácil pela tela azul, suave do computador. Ao desligarmos, não conhecemos mais nada do outro.  Com quem fala, que lugares frequenta.  O amigo escritor nem imaginava que a sua amiga, vestida de sua máscara, seria um laboratório vivo, como argumentação de suas histórias e fatos virtuais.  E nunca saberia, pois era escolha sua,  expectativas que não colocaria nas costas de Golbery,  pois ele não daria conta de suportá-las e muito menos atendê-las.  Esta é a maturidade que o Outono trazia à Maria Eulália.  Tinha consciência que não teria a colheita deste relacionamento, a não ser a linda amizade.  Bastava!!!
    Pretendia  ser transparente consigo mesma, e com o Paulo, ainda que não houvesse continuidade, de nada. Teria a oportunidade de conhecer uma pessoa, no mínimo interessante. E vinha seu dilema... Contaria a verdade sobre o  envolvimento do seu coração com  Golbery? Mas que verdade?  Se, mentia a si mesma, ao construir um castelo com as areias da sua fantasia, que voltariam ao mar no menor sopro da realidade? O mundo ilusório que faz sonhar, viver, sorrir,  não se sustenta nas  arestas de um lado só. Castelos edificados com cartas de baralho sobrepostas, de arquitetura frágil, sem amarras e vergalhões.  Maria Eulália com seu “olhar de idosa menina”  vibra com a paixão, mas no íntimo pressente que não tardará o dia  em que terá que dizer adeus às aspas que veste o nome do” amigo” e na encruzilhada de seguir adiante, preservar  a grande e linda amizade confidente, construída a  dois, nas intermináveis conversas. Esta sim, de mão dupla, cúmplice, solta, límpida, fiel e escudeira. Era um encontro de almas.  Já se conheciam, mesmo antes da noite de autógrafo, o que explicaria a emoção que explodira no primeiro encontro.   Para Maria Eulália isto era o essencial.   No espiral da vida, é preciso reconhecer  o tempo certo de fechar círculos, ciclos, fases, para que outros se abram à novas possibilidades.
      Golbery, às vezes se ausentava. Em tantos momentos  Maria Eulália o esperara em seus silêncios,  como ondas de um mar revolto que iam e vinham no movimento de sua alma à procura de calma, para que o espírito de paz pudesse preenchê - lo novamente.  Sempre, o amigo voltava  como praia vazia, de pés descalços, caminhando pela areia morna,  em busca de afago e abraço; da leveza de Maria Eulália, ainda que virtual.  Prazeroso  era, ter um  rosto bom, amigo, para se lembrar em suas saudades.  Novos conceitos de amizade surgem com o mundo virtual. Nisso Maria Eulália pensava.
    Se eu conheço bem a Maria Eulália, ela teria que remover muito mais aspas no  seu modo de encarar a vida, rompendo algemas, assim como outras mulheres de sua geração.  Muito mais custosas que as aspas na palavra  “ amigo”.  Aspas cerceadas por crenças,  costumes,  hábitos e medos e isolamento. Buscar o desapego,  deslumbrar-se com a libertação que nos torna leves e soltas.
    É... não   contaria  nada.  Uma amizade tão intensa, não deixaria de ser vivida.  Caberia em outros relacionamentos.   Setembro, não custa a chegar...  Terá  um encontro com o Paulo.  Maria Eulália, com sua Fé, coloca seu futuro,  na vontade  de Deus e vai tecendo seu caminho, com as  decisões  que lhe cabe.
   Maria Eulália  vê   em seu celular uma chamada perdida do Paulo.
   Retorna! Sempre achara  uma falta de “finesse” não dar o devido retorno  à ligações recebidas.  
       Uma mulher simpática,  atende.  Ele estaria no banho. Maria Eulália  apresenta -se como amiga.   Minha prima me disse que ele teria uma cuidadora,  coisas assim... sem maiores explicações. Logicamente não poderia viver sozinho, mediante suas limitações físicas.
                           Por favor, poderia lhe dar o recado?   Diz que eu liguei.


                                                    Olynda Aparecida Bassan Franco





6 comentários:

  1. Li no Recanto. Ficou lindo, cheio de desejos de viver. Abraço.

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    1. Stan!!!!! Que surpresa!!!!! Você por aqui...Obrigada. Sim. Entre realidade e mais ficção, uma filosofia de vida....VIVER!!!! Abraço

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  2. Conto primeiro "Amor da minha vida": Este conto é a grande prova do que uma narradora competente pode fazer, pois tem, em todos os sentidos, um grande potencial narrativo para nos agradar. Primeiro, possui um substrato de imaginação e criatividade extremamente interessante, atrai a atenção do leitor! Segundo, sua narrativa foge do introspectivismo para uma realidade viva, presente, concreta, como uma tela em que se fixa o ápice de uma situação humana, e de tal modo, faz com que o realismo se assemelhe com a vida. Outro aspecto interessante de se notar, é que nesta narrativa todas as palavras convergem para um mesmo alvo, fazendo com que o dado imaginativo se sobreponha ao dado observado, o que confere à obra um caráter estético que não se perde no vago. Terceiro, o conto possui uma linguagem objetiva, agradável e de imediata compreensão para nos leitores; despe-se de abstrações e da preocupação com o rebuscamento linguístico. Dentre outras coisas, o diálogo, no conto, tornou-se o mais importante, característica de uma boa narrativa. Por vez, os conflitos, evidenciaram-se nas palavras ditas, por intermédio dos signos de sentimentos, de ideias e/ou emoções, imprimindo, assim, tudo o que o homem sente ou pensa. Por fim, no que concerne à trama, bem como, ao foco narrativo, a contista foi bem linear, e sem muitos rodeios, fez do conto um relógio, de modo que, nos leitores vimos os fatos se sucederem numa continuidade semelhante à vida real. Este foi o grande ápice do conto e da contista, que de modo singular e inteligente, nos empolgou e nos surpreendeu até o final de sua narrativa! Parabéns amiga, siga adiante!!!

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    1. Onilda, quanto tempo dedicado ao "Conto Primeiro" É muito zelo e carinho. Mil abraços da sempre amiga Olynda

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  3. Lindo, lindo, mulher águia !!!! Parabéns !!!!

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    1. Suzana, que carinho e surpresa te encontrar no meu Blog. Muito muito obrigada tentando sair do quintal..rsrs Abraço da Olynda

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